11/11/2008

Eu já era o que sou agora, mas agora gosto de ser!

Quando eu ainda existia sem você (sim, porque agora eu já nem existo mais) muitas coisas na minha vida eram diferentes.
Sabe, eu era aquela amiga solteira convicta, eu ensinava as de coração partido a recuperar a auto-estima, a fazer amigos na fila do banheiro e no balcão do bar.
Antes de você invadir minha respiração eu era aquela mulher que não queria compromisso, que saia todos os dias, que bebia várias tequilas pra facilitar a noite e tudo acabar rápido.
Eu sempre tive muitas amigas, e minha felicidade sempre dependeu muito da felicidade delas. Nós nos reuníamos a qualquer hora, sob qualquer desculpa, para horas a fio de conversas e mais conversas.
Eu tinha muito medo de perder isso para o amor maior. Nunca me entregava por inteiro porque achava que homem nenhum valia a obrigação de abrir mão das boas amizades.
E eu achava isso porque assisti de camarote muita gente fazer isso, e boba que era, acabei acreditando e tomando como regra.
Mas daí, ai ai, daí você apareceu no palco, bongô sacudindo ao som dos seus batuques e as minhas certezas foram todas se liquefazendo.
Eu não sabia pra que lado seguir, porque só via você na minha frente e nossa, eu queria muito te ter só pra mim.
Foi aí que as amigas facilitaram o caminho e te trouxeram pro meu lado, dois passos à direita, três à esquerda, duas cervejas, nenhum cigarro e depois do “preciso ir embora” foi seu beijo que me derreteu.
E, quem diria, derreto até hoje!
Foi então que eu tive que refazer todas aquelas considerações dentro de mim. Foi contigo que eu aprendi, às vezes a duras penas, que a gente precisa sim abrir mão de uma ou outra mania. Mas aprendi também que sem minha vida por perto eu não seria feliz e não sendo feliz também não te faria feliz.
E assim o ciclo acabou se fechando. Você me amando, eu me amando, te amando e você se amando.
Seus amigos num boteco de sinuca, minhas amigas numa mesa de bar, cervejas e filosofias pessoais e a gente virou um só, mesmo sendo dois.
Somos um só porque acreditamos nas nossas verdades e respeitamos as verdades um do outro. E a gente briga, é claro, porque a calmaria traz solidão e com a gente é sempre turbilhão.
E tem dias que dá vontade de fugir do teu humor cruel e me esconder debaixo da cama, com a poeira e a tic-tac vermelha que perdi há anos.
E tem dias que dá vontade de pular sem pára-quedas no colo das amigas essenciais e te xingar e chorar e morrer só um pouco pra te fazer sentir culpa.
Noutros dá uma coceira na barriga, um calor de dentro pra fora, uma saudade sentada sobre meu coração, que se aperta. E a única coisa que consigo desejar é seu abraço, seu sussurro, sua vontade de mim.
Eu sei que agora, contigo, eu posso muito mais e não preciso ser alguém diferente do que eu sempre fui.
E por isso que eu vivo cantado “eu já era o que sou agora, mas agora gosto de ser”.

...quem que te mandou comprar conhaque com o tíquete que te dei pro leite...

Era um daqueles casais bonitos!
Combinavam no estilo das roupas, no gosto musical, na forma como percebiam a vida.
Apesar de alguns anos mais velha, ela trazia ainda uma certa malemolência de criança divertida que combinava com ele.
Ele tinha um olhar duro, um sorriso guardado que só derramava quando bem entendia, mas mesmo assim conseguia ser um poço de simpatia.
Uma combinação quase irresistível era ele ser um garotão de quase 30 anos, do tipo que fugia das responsabilidades enquanto ela era preocupada com contas e investimentos.
Era unânime a opinião das pessoas, tinham nascido um para o outro!
Ela era a caçula de uma grande família, e desde sempre foi rodeada de atenção. Talvez por isso fosse tão dedicada ao amor e aos carinhos.
Amava crianças pequenas, com destaque aos bebês perfumados. Adorava também os bichinhos de estimação, quanto mais peludos e pequenos, melhor.
Ele era um carente eterno, que fazia charme pra ganhar carinho a toda hora.
Um amante da boa cozinha, especialmente de massas e molhos saborosos, encontrou na namorada, um pouco acima do peso, a cheff mais deliciosa que poderia escolher. Com direito a prato principal, sobremesa e vinho do porto para digestão.
Ela era do tipo chorona, e ele do tipo cruel. Não foram poucas as vezes que as amigas a resgataram de uma inundação emocional.
Brigavam, nem muito, nem pouco. O suficiente para fazer das pazes a melhor parte do dia.
Eram divertidos e rodeados de pessoas preocupadas com o mundo.
Ela, apesar de ser independente e uma profissional bem resolvida, era mais ciumenta que uma mulher comum e menos ciumenta que uma mulher doente.
Nunca permitiu que terminassem, tinha certeza que se a decisão final fosse tomada ambos seriam orgulhosos demais para voltar atrás.
O que ninguém mais agüentava eram as discussões sobre futebol.
Ela flamenguista fanática, ele são paulino doente.
Por ela não haveria problema, o São Paulo nunca fora inimigo e qualquer coisa era melhor que namorar um vascaíno.
Ele não, nutria um ódio, um asco, uma aversão flamenguista que muitas vezes a humilhava sem nem perceber. Causava um mal-estar sombrio na alma dela.
Mas quem disse que a menina desistia de ser rubro-negra? Isso nunca! - ela insistia.
Isso seria virar outra pessoa, seria mudar de alma.
E as discussões rolavam soltas, rodada após rodada. Sem nenhum dos dois ceder um centímetro sequer.
E como toda boa briga vem sempre seguida de outras dúvidas e questões humanistas as deles não eram diferentes.
O fato dela ser publicitária, a culpa pelo consumo no mundo. A mania dele de não a apresentar para as amigas, a falta de atenção ao chegar e não beijá-la, o péssimo hábito de não fazer pequenos sacrifícios por ela.
E ele não deixava barato, vinha sempre com o papo de que ela nunca estava satisfeita com nada e que precisava tratar essa terrível falta de auto-estima.
E quando as coisas ficavam num patamar insuportável um dos dois baixava a guarda, respirava fundo e percebia que o caminho trilhado tinha sido bonito demais para estragar tudo assim, num erro do juíz.
E um sorriso era dado, um abraço era pedido e lá no fundo ambos se desculpavam pelas imprudências da língua.
E mesmo cobertos de dúvidas eles podiam jurar, nasceram um para o outro!

11/08/2008

e a vida segue...

Assusta-me essa decoração de Natal em outubro.
Parece que estamos antecipando tudo e assim não vivendo nada direito.
Bobeia um pouco e Coelhinho da Páscoa encontra Papai Noel na esquina, os dois apressados.
Assim como nós, que sempre apressados mal nos olhamos, que pouco nos tocamos ou conversamos com um ou outro na rua.
Nós que pouco nos compadecemos das injustiças do mundo, do país, do bairro, da rua...
A não ser quando cruzamos com um cachorrinho vagando sozinho pela cidade, ai sim, a cena corta nosso coração.
Diferente da mulher e seus 5 filhos ranhentos, que batem a nossa porta em busca de comida e dinheiro, nos tirando do cochilo da tarde de sábado.
Que saco! Por que tanto filho?
Tem pobre que merece mesmo a situação em que vive, a gente pensa.
E despacha a família porque se a gente dá duro a semana toda, porque ela não pode trabalhar também?!
E se esquece os mundos diferentes dentro do mesmo mundo. E se condena a conseqüência sem ao menos sugerir a causa.
E assim a vida segue, os valores se invertendo, a gente correndo e tentando buscar um sentido na vida.
E o pobre Menino que ao nascer foi colocado numa manjedoura vê todo o seu discurso cair por terra.
Vê todo o esforço de Seu Pai ser humilhado em praça pública e percebe que o tal livre arbítrio não tem sido bem usado.
Natal em dezembro? Pra que esperar tanto?Temos agora em novembro o adiantamento do 13º salário, é preciso aproveitar a oportunidade.
Consumidor age por impulso.
Vamos conquistar as crianças cada dia mais cedo, vamos chamar Papai Noel pra nos visitar na Oktober, com aquela barriga aposto que ele não resiste a um choppinho gelado.
Imagina o calor do velhinho com aquela roupa nada tropical?
E aos poucos o sentido de tudo isso se esvai em números, aumento da taxa de lucros, maior procura, comércio bombando, onda de empregos temporários e por aí vai.
E onde fica o "Feliz Natal, minha família, que bom que podemos comemorar mais um ano juntos".
E as histórias dos presentes escondidos, o jantar com todos reunidos, os abraços apertados e reconfortantes?
Demagogia demais pra você?Pois tem gente espalhada por aí desvirtuando o que é mais sagrado no mundo, que é o conviver em harmonia e no amor.
Tem gente comprando demais e fazendo o bem de menos. Eu ainda prefiro ver o Papai Noel só na noite de Natal, já de saída, em seu trenó voador dando rasante pelo Garcia.
Eu ainda acho muito mais mágico agradecer, de mãos dadas aos que estão sempre comigo, as oportunidades que tive.
Eu ainda acho mais digno oferecer alimento a quem não tem oportunidades do que padecer diante de um animal solitário.

7/31/2008

"já deu minha hora e eu não posso ficar, tchau"

Dizer adeus nunca é fácil.
Nunca gostei dessa palavra e por isso adotei o “até logo” e o “se cuide”, que é pra garantir que nos veremos em breve.
Mas chega um momento na vida em que dizer adeus é extremamente necessário e importante.
E são tantos adeus que você pergunta a Deus, “se foi pra desfazer, por que é que fez?”.
Mas a vida segue, e você acena para o passado.
É hora de dizer adeus à menina mimada, afinal de contas uma mulher adulta mora dentro de você.
Dizer adeus aos maus hábitos, você já está chegando aos 30, desse jeito não dura até os 40.
Dizer adeus aos amigos de porta-retrato que foram pra longe, que voltam um dia, mas que nunca mais serão os amigos de porta-retrato de ontem.
Dizer adeus ao trabalho confortável e enfrentar novos desafios, talvez com mais stress, mais problemas, mais dúvidas...
Dizer adeus aos ônibus diários, a tortura de acordar de madrugada e enfrentar 2 horas de trânsito.
Dizer adeus aos poucos amigos que fez aqui, e que sabe que esses poucos 60km que nos distanciam serão suficientes para não nos vermos mais.
Dizer adeus ao mar que você vê todos os dias e nem liga mais. Talvez assim eu aprenda a valorizar mais o meus novos dias de luta. Matando um leão por dia que é pra não perder a forma.

Bom, então...é...até breve!

"será que sou eu?"

Criei uma grande discórdia dentro de mim.

Agora todo dia é isso, divido-me em duas pra poder me suportar (e me contentar).

Além dessas duas doidas que moram dentro de mim, tem ainda aquelas outras velhas conhecidas... ficando apertado aqui dentro.

Sei que alguém vai ter que sair, mas estou apegada demais a todas as minhas personalidades, já não sei mais o que fazer.

Devo abrir mão de quem? Ceder mais espaço a qual de mim?

"Melhor é dar razão a quem perdoa, melhor é dar perdão a quem perdeu"

O mais difícil pra mim é lidar com seu passado.
Sinto ciúmes do que viveu antes de mim, das mulheres que amou, das declarações que fez, das promessas.
Sinto uma dor profunda quando te imagino em festas com elas, na cama com elas, olhando-as nos olhos e jurando amor.
Morro quando lembro que me disse uma vez “só fiz amor com mulheres especiais”.
E a cada dia eu tento ser mais e mais forte pra não deixar que seu passado ofusque nosso presente.
E respeito o tempo que passou, porque o meu tempo também passou.
Eu também amei outros homens e jurei amor.
Eu chorei por não ser correspondida, eu chorei por ter sido abandonada e desconfiei que nunca seria feliz com alguém.
Mas o destino já tinha feito suas escolhas e me colocou na sua frente pra provar que eu precisava continuar tentando...e tentamos e acertamos.
O amor que sinto por você é grande, é calmo, é seguro.
Com você eu faço planos, por você eu largo tudo, pra você eu movo o mundo, se precisar.
E todos os dias sou mais forte e corajosa e esqueço o tempo que passou para viver contigo novas descobertas.
Não admito te dividir com ninguém, mas sei que o passado vai continuar existindo.
Assim como o meu, a assombrar as noites escuras, depois das brigas...sei que ele vai continuar mandando lembranças, vai ainda fazer declarações de amor e dizer que me espera. Mas eu te garanto, meu amor, o passado não volta mais.

7/23/2008

"a atitude de recomeçar é todo dia toda hora e se respeitar na sua força e fé e se olhar bem fundo até o dedão do pé"


Durante quatro longos anos eu morei fora de Blumenau, minha cidade tão provinciana e tão querida.
Foi uma experiência incrível, deu vontade de não voltar.
Ganhei autonomia, liberdade, jogo de cintura e alguns quilos.
Mas eu estava sufocando de saudade.
Saudade de ter por perto gente de verdade, não corpos sarados e conversas fiadas.
Claro que eu sentia falta da família, dos sobrinhos crescendo, dos pais envelhecendo sem a minha participação efetiva.
Mas as amigas eram um ponto crucial na minha pseudo-infelicidade.
Sentia saudade de abraçar, de jogar conversa fora sentada no murinho da rua bonita.
Sentia muita falta dos conselhos, dados sem pretensão e sem cobrança.
Nós somos amigas de longa data, amigas que não fazem pressão, que não ficam “de mal”.
Adultas, bem-resolvidas e felizes, acima de tudo.
Cada uma teceu seu caminho, com as pedras, os buracos, as escolhas e os amores que bem entendeu, mas sempre tendo as outras como suporte.
O fundamento das nossas vidas tem na sua essência os mesmos componentes: dignidade, força, lealdade e massa cinzenta. Não, nesse caso não é de cimento que estou falando. É conteúdo, é inteligência.
Elas são, pra mim, como uma folga na vida dura. São meu final de semana sem compromisso.
Elas são meu despertar sem pressa, num domingo com clima de páscoa.
São calor de festa com gente suada e divertida, são o chocolate com café que eu tanto gosto.
A maioria delas está bem próxima do meu sorriso, do meu choro e da minha montanha russa emocional. E elas embarcam no carrinho da frente, porque são Divas essenciais na minha vida.
Outras, puxa, estão um pouco mais distante do meu abraço, mas conseguem mesmo assim compreender minhas dúvidas cruéis, minha vontade de bater, minha vontade de chorar!
De qualquer forma são MINHAS, de mais ninguém.
E sem aviso prévio elas me resgatam da rotina, elas me salvam da tristeza e das neuroses virginianas. E mais um dia o sol se esconde pra lua aparecer. E se faz noite no reino encantado da Dona Baratinha.
Amigas que eu trago com todo cuidado dentro das palavras que escrevo, só pra dizer, obrigada!
Só pra dizer que sem vocês a vida estaria muito difícil.

Tudo isso só pra dizer que amo vocês!


- na foto estão as de perto: Silvana, Priscila, Andreza, Morgana.
- mas esse texto vale também para as de longe: Paula, Sabrina, Luana e Telme

7/10/2008

"Vale, vale tudo"

Eu sou o tipo de mulher que resiste a uma liquidação.
Só compro roupas quando realmente gosto muito da peça.
Não sou obcecada por bolsa, muito menos por sapatos.

Aliás, sapato eu só compro quando o que eu tenho acaba. Acaba mesmo, gasta a sola, machuca o pé.
Acho bonito e tal, mas não tenho problemas em entrar naquelas imensas lojas com pares de todas as cores, saltos, modelos. Com brilho, sem brilho, salto fino, plataforma. Botas, sandálias, rasteiras e por aí vai.

Claro que eu consumo, mas normalmente sou bem educada e controlada, só não me larguem numa livraria, por favor!
Aí sim vocês conhecerão uma mulher louca.
Passeio pelos corredores como quem busca o néctar da vida. As capas lindas e intocadas, as páginas de um branco opaco (que ajudam a leitura pois não refletem a luz, já tinham pensado nisso? Pois eu sou produtora gráfica!!!).
Às vezes penso que nasci numa biblioteca, mas na minha casa tinha muitos livros, exceto os da minha irmã mais velha.

E eu nem me alfabetizei no pré, como a maioria das minhas amigas.
Aliás, eu só consegui virar sócia da biblioteca do colégio lá pelo segundo ou terceiro mês de aula, na primeira série.
Isso era 1985 e a coordenadora geral da escola chamava um por um, numa salinha pequena onde tinha um grande quadro com o texto da formiguinha. Lembro que errei várias palavras, de nervoso, mas consegui “passar no teste” e fui correndo fazer minha carteirinha. Depois disso eu viciei no cheiro de lá. Competia comigo mesma.

Queria registrar na ficha verde o maior número de livros. E para isso acontecer eu usei a estratégia da leitura rápida. Pegava um livro num dia e devolvia no outro. E assim fui acumulando várias histórias.
Tive fases e livros inesquecíveis, como Qüeco, o Pato Selvagem. Ou ainda “Um cadáver ouve rádio”, da coleção Vaga-lume. Tinha a série da Diana, que eu amava e o momento Érico Veríssimo, li todos que estavam disponíveis, destaque especial para “Música ao Longe”.

Com o tempo o gosto pelas palavras foi aumentando e a vontade de escrever também. Os professores diziam que só escrevia bem quem gostasse de ler, e eu queria escrever bem!

Além de não poder entrar em livraria tenho um fraco por Sebos.
Os livros amarelados, com tantas histórias além das suas próprias histórias. As páginas com orelhas dobradas, decerto alguém parou a leitura ali, ou os nomes anotados na primeira página. Alguns vêm com frases grifadas, telefones anotados, nomes enfeitados de coração.
Tudo me encanta.

Outro dia eu tive que sair da agência no meio da tarde, resolver um problema na rua. Sabia que no meu caminho havia uma Livraria.
Cheguei na esquina e a vi, portas abertas, vitrine enfeitada. Respirei fundo e pensei em não atravessar a rua naquele ponto, poderia ser perigoso, mas não resisti.
Tentei enfrentar meu medo e estanquei, frente às novidades.
Aliviada vi que os títulos expostos não passavam de auto-ajuda, gênero que não me agrada. Fiquei feliz por ter resistido, mais um passo e, quem eu vejo? Lindo, vermelho e amarelo, novo e louco de vontade de ser devorado...lá estava o lançamento de Nelsinho Mota, a biografia de Tim Maia “Vale Tudo”.

O coração bateu forte. O “Verdades Tropicais”, do mesmo autor, é um dos meus preferidos da estante. Tim Maia eu amo desde que nasci, e biografias são uma grande paixão.
Entrei. A moça me perguntou se eu procurava algo especial, quase respondi grosseiramente “é lógico, estou numa livraria! Se estivesse buscando alguma coisa qualquer eu iria ao shopping”. Mas fui educada e apenas respondi “vou dar uma olhada geral”, o que normalmente as mulheres (eu) falam ao entrar nessas imensas lojas de departamento.

Busquei freneticamente o livro, mas não achei. No entanto vi os novos do Millôr e quase tive uma síncope. Lindos, ilustrados pelo Angeli e com laminação fosca na capa. Agarrei os dois, mas decidi levar apenas um. Entre “Novos Contos” e “Novas Fábulas Fabulosas”, acabei optando pelo primeiro, adorei o que dizia a contra-capa.
Mais uma busca rápida e encontrei o que queria, Tim Maia em versão escrita. Nossa, minha boca ficou seca.

Corri pro caixa, paguei a vista e em dinheiro e saí, toda orgulha da livraria.
Sai com a sacola em punho, balançando contra o vento, sorriso no rosto, cabelo esvoaçante.
Queria mesmo era chegar em casa logo, deitar de bruços, aconchegar a cabeça e os braços no travesseiro fofo e degustar meu novo amor.

Foi um delírio...foram apenas 3 dias...quando eu amo eu quero o tempo todo, então era no banheiro, no ônibus, na cama, no horário do almoço...até na fila do fast food eu lia, lia, sorria, chorava, lia mais um pouco e esquecia de tudo ao meu redor!

Eu estou completamente apaixonada.
Sabe quando você tem vontade de ligar a toda hora, mandar recadinho bobo no orkut, mensagens no celular e tudo mais?
Sabe quando dá frio na barriga de encontrar, quando você deseja que o dia passe voando só pra poder ficar perto?
Estou me sentindo até meio boba, sei lá, fico corada ao lembrar dele, fico com vontade louca de beijá-lo e abraçá-lo.
Olho pra ele e penso, meu deus!!!, que boca vermelha gostosa, que olho verde lindo, que sorriso, que mãos, de tudo!
E sabe o que mais me assusta?
Essa semana a gente completa 2 anos de namoro...

7/08/2008

De sonhos e de medos

Não posso saber de você, mas estou com medo.
Medo de ser novamente difícil. Não que agora seja fácil.
A rotina, os horários, os salários, tudo nos boicota.
Mas a gente sempre dá um jeito.


Não posso falar por você, mas eu sonho com a gente.
Sonho com o espaço divido em dois. Sonho pequeno.
Nossos braços recolhidos no mesmo abraço.
O beijo de até breve, com certeza de ser realmente breve.


Não posso sentir por você, mas eu tenho medo de sonhar.
Arrisco tudo na gente, mas dá medo de perder a aposta.
Às vezes eu queria ser como num sonho.
Pequena e protegida. Sem decisões, sem choros e sem problemas.

Não posso sonhar por você, mas divida comigo seus medos.
Já não somos mais plenos quando separados.
Meu maior sonho é conseguir afastar o medo de você.
Por isso entrego agora minha força e coragem, são suas, absolutamente suas.
Assim como eu sou absolutamente sua.

Coisas de internet


É, eu sou menininha e sonho com casa de cerquinha branca, gatos e cachorros de estimação (muitos gatos e poucos cachorros), e por que não dizer, com filhos!
Essa coisa de ser mãe nunca fez minha cabeça...mas confesso que ter uma relação plena (apesar de ainda vivermos problemas de adolescentes) e estar chegando nos 30 acabou aflorando esse meu lado materno, até então adormecido.
Quem me conhece sabe que amo crianças e que elas me amam.
Sabem que eu adoto os sobrinhos de todo mundo e conto as qualidades deles com o maior orgulho do mundo.
Sabe também que eu trabalhei como babá desde os 11 anos e que depois disso trabalhei numa creche por mais 5 anos.
E tá cansado de saber que eu sou completamente apaixonada pelos meus sobrinhos...os de coração e os de sangue, sem esquecer de nenhum, aqui vai um beijo infinito da tia nem sempre tão presente quanto gostaria.
Junior, sobrinho de coração, que já me fez ser tia-avó...beijo de banho de piscina na casa da sua avó Rosinha.
Luíza, sobrinha de coração, que está um mulherão lindo e inteligente...beijo de flan com caldinha de caramelo que só a sua mãe (irmã do coração) sabia fazer.
Lucas, sobrinho oficial mais velho, amor incondicional e infinito...beijo de "pesunto"
Maria Carolina, sobrinha maravilhosa , de sangue e de coração...beijo de bolo de crocante.
Gabriela, sobrinha mais que esperada, que só dormia no meu colo e no carro...beijo de brigadeiro de colher.
Eduarda (minha afilhada mais velha e perfeita), uma das gêmeas mais linda do planeta...beijo de lasagna da tia Cíntia.
Mariana, a outra gêmea mais fantástica do mundo...beijo de farofa da vovó Lili.
João Vitor, o menino tão desejado, depois de tantas mulheres...beijo de bagunça da cama.
Isabela (minha afilhada mais nova e perfeita), nossa paixão mais nova...beijo de neném, muitos nenéns!!!

E porque não voar ainda mais alto e dar risada do resultado?
Pois então, esse aí em cima é meu filho, segundo o site www.makemebabies.com
Só não sei de onde saiu esse cabelo ruivo!!!!!!!!!

Momento de dúvida

Só pra eu entender...a moda agora é anos 80 (de novo)...e por isso a onda é destruir os cabelos?
Tenho visto coisas de arrepiar...e sábado corto o meu...se ele ousar sugerir mullets eu fujo correndo!

7/03/2008

CUIDADO TPM

Algumas coisas me deixam muito irritada.
Muito mesmo, a ponto de explodir, mandar a merda, sair batendo pés e portas.
Uma delas é cliente insuportável.
Aos que espiam aqui, eu sou publicitária, e faço desde cafezinho até atendimento (exceto arte).
Mas eu odeio, real e profundamente, os clientes em geral.
Não os gerentes de marketing (tá, alguns eu odeio também)...odeio mesmo é o dono da empresa.
Sabe aquele cara que encheu o cu de grana e que acha que por isso tem o direito de te tratar mal? Sabe aquele cara que se formou em Administração (quando muito) e acha que saca muito mais de layout que você? Sabe aquele cara que acha um A-B-S-U-R-D-O você cobrar (um preço muito justo) por um anúncio de jornal?
Afinal esse anúncio nada mais é “do aquela logo que eu já paguei há tempos atrás, mais essa frase embaixo que eu também já paguei (slogan), mais essa foto que eu insisti em ser feita com a minha netinha linda (monstro do lago Ness), mais um pouquinho de texto, e esse monte de espaço em branco!!!”
É meus amigos...tem dias que a minha vontade é urrar!
Outra coisa infinitamente irritante é cliente que pede 354643469766 alterações. Uma por uma, que é pra acabar de vez com o resquício de paciência que me sobrou.
Pra finalizar com chave de ouro eles EXIGEM a entrega imediata do material impresso. Como se nós tivéssemos o dom da impressão.
Ou como se o mundo gráfico girasse em torno do umbiguinho da empresa deles.
Ah, convenhamos, tem gente que merecia cadeira elétrica, ou como dizia uma amiga: deviam entrar em combustão espontânea! Preferencialmente ao acordar, que é pra não dar tempo de me solicitar NADA.
Mas aos trancos e barrancos a vida segue, e eu ainda vou desenvolver dons sobrenaturais que me farão prever orçamentos e agilizar produções para entrega em 2 horas, ou até o meio-dia.
Tá, agora chega que acabei de quebrar um brinco e descobrir que está chovendo.

E eu, pra variar, estou sem guarda-chuva!

"seja na terra, seja no mar, vencer, vencer, vencer..."

Flamenguista até o último fio de cabelo confesso que adorei a derrota do Fluminense, ontem, na Taça Libertadores.

E não me venham com essa de que Flamenguista é tudo burro e que é uma vergonha nacional não torcer por um time do seu país.

Admito que sou mesmo um pouco irracional no quesito futebol, mas a minha gana mesmo não era contra o Flu, é contra o tal do Renato Gaúcho.

O cara é insuportável, arrogante, prepotente, achava que o título estava ganho e fez um gol de barriga em 95, numa final decepcionante de um campeonato carioca.

É, esse campeonato que ganhamos esses tempos, aliás campeonato vencido 29 vezes e que somos bi-campeões!

Confesso também que pode ser um exagero, que não devemos guardar mágoa e coisa e tal...pra mim é tudo falaçãozite.

Sou Flamengo até morrer, e morri de rir hoje pela manhã, ao me deparar com o resultado final.

E sabe o que foi melhor? Saber que eles foram até o limite.

Sim, os jogadores merecem os louros, foram guerreiros, sem dúvida!

Mas não deu pra eles...que pena!

Agora é levantar a cabeça e correr atrás do prejuízo no Campeonato Brasileiro...em qual colocação estão mesmo? Oi, não ouvi direito? Ahhhh, 20ª!!!

E o Flamengo??? Hã?

Pois é, mas como é preciso manter a humildade vamos seguir em frente.

E só mais uma curiosidade...você sabia que para essa final no Maracanã a LDU treinou na Gávea?
Nada é por acaso...

6/09/2008

...há tempos atrás...

junho 2004

Dizem que meninas sozinhas fazem coleção.

Não sou mais menina e, no entanto, coleciono muito.
Tudo que encontro pelo caminho eu guardo comigo.

E de cada passo trago um pouco de quem já passou.
Trago da vida muita história pra contar.

Tanto desejo, tanto desencontro, tanto sorriso que não caberia num livro se eu fosse soletrar.
Trago de casa amigos-irmãos que sabem da pressa e apertam o passo para poder acompanhar.
Trago do caminho trilhado amigos de porta-retrato com quem trato sempre de bate-papo. Alguns encontro todo dia, alguns sinto falta de olhar.
Trago no coração alguns amores partidos e outros que logo partirão.

Sem por que e sem motivo resolveram ceder lugar pra solidão.
Trago da morte um fim tão forte que só traz a certeza que é importante construir uma fortaleza pra antes de tomar qualquer decisão.
Trago da tua boca a semente travada e lacrada, a certeza latente da minha devoção.
Trago do corpo a vontade, inegável o fato de se ter um bom trato.
Trago do mundo o castigo de não conseguir abrigo e tentar sempre um precipício a cada buraco no chão.

"pular de precipício em precipício, ossos do ofício"

Não sei exatamente como foi, só sei que aconteceu.

Percebi que amo muito, que amo mesmo soterrada em contas, que amo feliz, que amo no mau-humor do despertar, que amo depois do banho.

Não sei exatamente quando foi, mas acredito que pode ter acontecido naquele dia em que parei de correr atrás e resolvi seguir em frente.

Talvez tenha sido no dia seguinte, ainda não sei.

Mas sei que amo exageradamente. Amo tanto que penso que nem amo mais. Por uns instantes eu desisto e logo volto pra buscar o amor.

Não sei se foi a sobrinha aprendendo a falar, se foi a mãe desistindo da sua força e cansando de lutar, não sei se foi a saudade de cantar Julio Iglesias no sala de visitas. Mas agora eu tenho certeza, eu amo.

Eu amo sem orgulho, sem prestígio, sem chacota. Amo com ironia, com desprezo, até com uma certa raiva de amar tanto, mas eu amo.

Eu invisto cada dia mais, eu imploro por novas chances, eu rezo e peço que tudo dê certo no final, porque eu amo, e sei que vale a pena amar.

Porque, cada dia mais, recebo provas de amor.

Cada dia que era presente e virou passado me coloca exatamente onde eu deveria estar. E eu amo.

Amo a vida. Amo viver. Amo você.

5/29/2008

"só enquanto eu respirar"

Ele garante um mundo melhor pro seu filho. Confirma com todas as letras escondidas que teremos paz, harmonia, natureza.
Ele se deita todas as noites antes de dormir e faz um relatório imaginário do seu dia-a-dia. Pensa que já fez muito pelo mundo e que continuará fazendo. Separa o lixo reciclável do lixo orgânico, mas no seu conjugado não tem espaço pra tantos sacos e ele se livra deles antes que percebam sua imprudência. Precisa urgente de uma nova agenda para anotar os compromissos de ontem. Ele aguarda ansioso esse mundo melhor chegar. Um mundo em que violência e trégua não existem. E se não há mortos, o que faremos com tantos cemitérios? Não busca resposta porque cansou da pergunta.
Ele acorda suado de coberta, ficou com medo do escuro do quarto, o silêncio o enlouquece. Liga o ar condicionado para espantar os mosquitos. Esses insetos estão cada dia mais insensíveis. Dorme com música pra ninar os sonhos. Ele é forte e viril, mas precisa tomar o achocolatado antes do trabalho, senão não rende, senão cansa antes das 9h. Ele busca um mundo melhor pro seu filho. É desses homens que cumpre as promessas entre uma figa e outra. Não quer mais lixo nas ruas nem rios poluídos, mas esqueceu que o óleo da fritura precisa ser guardado e não despejado na pia branca. Não se importa. Afinal, foi só dessa vez. Na próxima ele se lembrará e fará como mandam as regras do bom comportamento. Ele sonha com o dia em que todos sairão às ruas para se cumprimentar com sorrisos, odeia os encontrões das calçadas estreitas. Não suporta as cabeças baixas daqueles que vagam, apressados, sem tempo e sem futuro. Sempre fecha o rosto quando isso acontece.
Ele procura nas mãos um motivo a mais para sorrir, mas esquece que o sorriso está guardado nos olhos. Finge prazer na cerveja gelada depois do expediente e volta exausto de tantas filosofias de botequim.
Ele tira os sapatos para entrar em casa, deixa na porta os restos de um dia cansativo e triste, com sol e chuva. O tempo hoje em dia está caducando, esqueceu-se o que é ser verão e inverno e misturou tudo num mesmo momento, pra ninguém perceber sua falta de atenção.
Ele acorda mais um dia pra labuta. Promete cuidar do mundo que será de seu filho, cuidar de verdade, fazer sua parte. Fuma um cigarro enquanto espera a condução. Não sabe o que fazer com o filtro, já apagado, e o joga na boca de lobo próxima ao meio-fio. Todo mundo faz isso, uma bituca a mais não fará diferença.
Ele embarca no latão lotado, desliga-se dali e lembra da promessa. Lembra que não foi fiel aos conselhos que deu, nem seguiu os pedidos do mar, nem ouviu os lamentos do rio. Volta ao seu mundo sem culpa, quando seu filho nascer ele fará tudo do jeito certo.

5/07/2008

...é pra pensar mesmo...

Esses dias uma amiga me disse “está na minha cara, tenho medo de não estar enxergando”.
Pois bem, eu assumo que também sinto esse medo.

"Viva a sua maneira, não perca a estribeira, saiba do seu valor"

Muita gente anda por aí sem ter noção do estrago que faz.
Pode parecer simples, mas o fim é sempre triste.
Por mais que você tenha certeza de que essa é a coisa certa a se fazer, que não dava mais, que vai ser melhor assim.
Só o tempo cura um coração partido. O que não se fala é que um coração remendado traz com ele muitas marcas que não se apagam mais.
Traz algumas paranóias, traz um pouco de desconfiança, traz ciúmes.
Mas é importante se fazer valer das forças ocultas que aparecem do nada quando você mais precisa delas.
É deveras valioso que você, se tiver o coração quebrado, se reúna com o máximo de pessoas geniais, que dance até o chão espantando a tristeza e que se permita chorar.
Porque nada lava mais uma alma do que uma boa dose de lágrimas salgadas.
Elas podem ser caudalosas, únicas ou esparsas. Não as prenda no seu peito, nunca!
Elas podem se tornar um nó apertado que fica mais firme com o passar do tempo. Ou ainda podem virar uma ruga triste entre seus olhos.
Não permita isso!
E essa gente que anda por aí sem ter noção do estrago, certamente vai encontrar algumas pedras no caminho. Mas vai encontrar sozinho, ninguém vai precisar coloca-las lá.
Essa gente vai sentir um amargo na boca, vai dormir um sono confuso e agitado, vai roncar parecendo que engoliu um bicho.
Certamente quem anda fazendo estragos nos corações alheios vai chorar lágrimas sofridas para tentar, em vão, não atrofiar o coração, porque o jeito de amar deles é torto e fez sofrer quem só se dedicou.
No amor só vale fazer o bem. Só vale estar bem. Só vale ver o outro bem.
Se você é um desses que anda fazendo estragos por aí, cuidado! O mundo gira e as energias conspiram para que tudo retorne ao ponto de partida.
Desvie das pedras, mas não pense que conseguirá fugir delas pra sempre.
Se você teve o coração devastado, lembre-se que a vida passa por ciclos e que é preciso esperar a noite acabar para ver o sol nascer de novo.
Se isso parece auto-ajuda eu prefiro classificar de “filosofia de botequim” e fazer rir a quem seja de rir.
E amar é sempre permitido.

"É raro encontrar um amor, mais raro merecê-lo." – Fabrício Carpinejar.

4/23/2008

"ai de mim que sou assim"

Ok, ok..eu admito, sou uma romântica incurável.
Sou também perfeccionista, traço marcante do meu signo de terra, que eu achava que não fazia parte de mim.
Além disso, também sou um pouco insatisfeita e dada aos lampejos de melancolia e um eterno senso de “não era assim que eu queria”.
O problema disso tudo é que acabo me frustrando em algumas situações. E o pior, acabo enlouquecendo as pessoas ao meu redor.
Prometo, perante todo o mundo virtual, que serei mais compreensiva de agora em diante!

* ainda bem que ninguém lê isso aqui!!!!

Alegria de viver do dia

Fê - Isabela, esse é só um presentinho, tá! Porque presente mesmo a gente só ganha no Natal e no aniversário...a Dinda só quis comprar porque a Dinda quis...
Bela - nenémmmmm (abrindo o pacote).
Fê - simmmmmmm, um neném...como que vai ser o nome dela?
Bela - o mone (nome) Jaque!
...horas depois ela dorme abraçada à Jaque...

Vontade de morrer do dia | Parte 2

Juliano (amigo do namorado) - Fê, deu uma engordadinha, né?!
Fê - é...
Juliano (amigo do namorado) - não, mas tá legal, tá legal...
Fê - é...

Vontade de morrer do dia | Parte 1

Cabeleireiro - quer que eu mantenha o comprimento?
Fê - não, pode tirar uns quatro dedos
Cabeleireiro - Fê, você tem neném pequeno?
Fê - não...

"oh chuva, só peço que caia devagar"

Não basta querer.
A rotina, o trabalho, os problemas, a falta de grana. Tudo é claro, faz parte da vida, mas não adianta sentar e reclamar.
E ela sabia que as coisas não seriam como ela sonhava. Tinha certeza que o caldo poderia entornar, ainda mais com sua pouca habilidade na cozinha.
O fato é que estava um pouco cansada de dar sem receber.
Estava exausta de ter que medir as palavras em conta-gotas e ser obrigada a engolir litros de desaforos.
Sempre foi adepta da gentileza, do agrado. Não se sentia menor em fazer, mas gostava de ser reconhecida por isso.
Jamais fez algum favor a alguém esperando algo em troca. Só que era um alento à sua alma, sempre tão carente, ter a certeza que poderia ganhar atenção sempre que precisasse (e ela sempre precisava).
Não era o caso de querer ser agradada vinte e quatro horas por dia, isso não. Mas queria receber carinho, elogios, beijos despretensiosos.
A simplicidade dos gestos era muito mais importante que uma noite de sexo selvagem.
Ser bem tratada, ser ouvida, ser aconselhada, ser envolvida num abraço carinhoso, era disso que estava precisando.
E por que, Deus, era tão difícil? Por que as coisas tinham que ser assim?
Será que não dá pra ser legal todos os dias, ela pensava?
Ela entendia que as pessoas têm dias ruins, e compreendia tão bem que ficava em silêncio, não fazia perguntas.
Mas não bastava. Ela sempre gostou de entender as coisas de verdade, começo, meio e fim.
Tomou coragem e algumas cervejas (muitas) e decidiu abrir o bocão.
Chorou, lamentou, esperneou e temeu não ser compreendida. E lógico, não foi.
Mais uma vez teve que ouvir duras verdades e dolorosas meias-verdades.
O problema maior foi ter que reconhecer que nem sempre era assim tão altruísta quanto se considerava e reparar que muitas vezes a aspereza alheia era o reflexo da sua própria forma de lidar com os fatos.
Também havia errado, e muito, no cálculo das verdades. Também havia magoado, também havia ferido um coração.
Foi dormir embriagada, de cervejas e tristezas. Pensou se aquilo tudo realmente valia a pena e acordou temendo ser convidada a se retirar daquela cama que amava tanto.
Levantou no silêncio, tentou vestir-se na bruma da manhã, para não incomodar seu sono.
Não houve jeito, ele percebeu sua ausência na cama e, antes mesmo do bom dia, perguntou de forma fria: “vai embora?”
O coração dela correu do peito para a boca, a respiração parou por dois segundos e o estômago sentiu um vazio interminável.
Ela apenas respondeu: “não”.
Ele virou-se para o lado e voltou a dormir. Logo em seguida espirrou, como de costume, e pediu a ela que buscasse os lenços de papel.
Logo depois ele se levantou, ela estava sentada no sofá da sala. Os olhos caídos de ressaca e noite mal dormida ganharam um brilho extra ao se encontrarem com os dele, num olhar rápido entre o corredor e o banheiro.
Ele aconchegou-se com a cabeça no seu ombro e disse: “minha coelha”.
E o domingo de chuva lavou a alma dela. Não tocaram mais no assunto, certos que tudo estava resolvido.

4/01/2008

direto do túnel do tempo...

* texto de 07/06


Atenção terráqueos é hora de voltar!
Chega de reclamar da vida, se o destino não foi legal com você até agora, dê a ele mais uma chance. Sempre há tempo de se redimir.
Nada de julgar as esposas que traem, muito menos os amigos que se acomodam num mundo próprio e sem cor.
É hora de agradecer a nova oportunidade de ser feliz. Sem essa de se contentar com doses homeopáticas de amor.
Esses tostões recebidos ao longo do tempo nunca levaram a nada, você não enriqueceu com os trocados, portanto corra atrás de novos investimentos.
Não pense que amanhã pode acabar, viva agora o seu novo amor. Seja ele seu amigo, seu chefe, seu vizinho ou professor.
Volte aos abraços dos bons e velhos amigos. São eles que fazem suas loucuras ter sentido.
Não quer ir à caça? Então divirta-se com as presas alheias e aprenda com as grandes caçadoras quais as melhores armas a se usar numa noite de tédio.
Alou terráqueos, a hora de voltar chegou e não temos mais tempo para esperar...nem Godot, nem Pedro, nem ninguém...
Agrade seu corpo no frio sucumbindo a um delicioso banho quente e mergulhe numa cama macia. Cama com edredom recém lavado que de tanto esfregar já nem é mais azul.
Não perca sua cor com os dias que se arrastam, não vale a pena.
A vida é ridícula e fugaz e merece risadas contínuas de pura liberdade.
Massageie seus pés quando tiver um tempo, eles o levam ao dia seguinte sem nunca reclamar. Viva o mar, sua salinidade e temperança.
Viva a saúde de um brinde à paz mundial.
Viva a conquista de ter sua vida de volta.
Viva!

"viajaria a prazo pro inferno"

Manual de boa conduta para passageiros de ônibus rodoviários.

Ora, tudo bem, pegar ônibus é mesmo um saco.
Claro que existem as compensações, afinal esse mesmo ônibus vai te levar para um lugar onde, presume-se, pessoas queridas o estarão esperando.
Mas o fato é que eu tenho observado que, uma breve, ou uma longa viagem podem se tornar muito mais agradáveis se tomarmos algumas medidas simples.

- Se você comprou a poltrona 36/corredor sente-se na poltrona 36/corredor. Não queira dar uma de espertinho e sentar na janela. Se a sua intenção era sentar-se à janela, que tivesse escolhido outro banco.
- Se você pretende descer em um ponto imaginário, logicamente bem próximo a sua casa, opte por um ônibus “pinga-pinga”. Não tente persuadir o motorista com histórias tristes. Já pensou se dos 50 passageiros, 15 tiverem essa feliz idéia?
- Se você estiver acomodado numa poltrona do corredor e a pessoa que comprou o banco da janela chegar, e lhe pedir licença para poder sentar-se, tenha dignidade de se levantar. Nem você merece levar uma bundada na cara, nem a pessoa merece ter que esfregar a bunda em você.
- Se o passageiro ao seu lado está com fone de ouvidos evite puxar conversa, ele provavelmente está bem mais interessado em ficar em silêncio. Se for uma pergunta de extrema necessidade, faça-a de forma rápida e clara e se o passageiro recolocar os fones com pressa, inevitavelmente cale-se, porque ele não irá mais te responder.
- Se bater aquela fome seja discreto ao abrir pacotes de salgadinho, especialmente nas madrugadas quando o ônibus está em silêncio e os pobres passageiros estão tentando relaxar no balanço sacolejante das nossas estradas.
- Ao levantar-se para descer coloque sua poltrona na posição 90º. Lembre-se que pode ter algum passageiro gordinho sentado atrás do seu banco, querendo desesperadamente descer também.
- E por fim, cumprimente o motorista que o trouxe são e salvo ao seu destino, educação nunca é demais.
Se as pessoas pensassem um pouquinho mais em ser agradáveis, certamente o mundo seria um lugar bem melhor de se viver. O individualismo tomou conta das nossas atitudes. Ninguém mais pensa no bem-estar coletivo. E isso, meus amigos, será o grande mal da humanidade. Há que se preocupar com as pessoas, com os animais e com a natureza. Você não precisar mudar o mundo, basta fazer a sua parte.

3/14/2008

Eu grito Camarada d' Agua, fique peixe de manhã de madrugada!

É, parece que ela voltou.
A tão ansiada paz resolveu voltar a reinar.
Está bem instalada, feliz e se aconchega docemente nos meus pensamentos ao longo do dia.
Sim, estou mais cansada, com mais sono, mais olheiras e menos inspiração.
Mas estou em paz. Respirando. Ouvindo. Compreendendo.
Estou reaprendendo a conviver em grande grupo. Estou tranqüila. Estou feliz.
Achei que esse dia não chegaria mais.
Tentei tanto, procurei tanto, chorei tanto e nem me dei conta que a paz estava o tempo todo dentro de mim.
Não percebia nem enxergava que ela estava só esperando eu dar o primeiro passo.
Momentos felizes.
Amigas por perto, tão perto que consigo abraçar.
Crianças por perto, tão perto que eu consigo ouvir, sorrir, tocar.
Meu amor por perto, tão perto que eu posso dormir sentindo seu cheiro.
Valeu a espera.

3/12/2008

Te dei meus olhos para tomares conta, agora conta como hei de partir

Eu te amo mais quando beija minha mão no meio da noite.
Eu te amo mais quando sussurra elogios inaudíveis no pé do meu ouvido.
Eu te amo mais quando me abraça forte ao chegar.
Eu te amo mais quando me oferece seu ombro, quando me puxa com carinho e acomoda minha cabeça no sei peito.
Eu te amo mais quando me faz rir.
Eu te amo mais quando nossas conversas são bobas e depois sérias e depois leves e depois mudas.
Eu te amo mais quando passamos a tarde em silêncio, apenas obedecendo ao que nossos corpos exigem.
Eu te amo mais quando nos divertimos em grupo.
Eu te amo mais quando sentamos, só os dois, na varanda pra tomar uma cerveja
Eu te amo mais quando discutimos e depois fazemos as pazes.
Eu te amo mais quando me apresenta “essa é a minha NAMORADA”
Eu te amo mais quando vens ao meu encontro.
Eu te amo mais quando me beijas.
Eu te amo mais quando estamos juntos.
Eu te amo mais quando dizes “eu te amo”
Eu te amo mais quando...sempre...

São dois pra lá, dois pra cá

Desejo que esse ano me traga menos passagens e mais encontros.
Que eu deixe de fazer da rodoviária o meu segundo lar e finalmente decida onde fica o primeiro.
Que minha mochila torne-se a casa dos meus momentos de camping, não a extensão do meu corpo.
Que eu permita passeios longos aos meus pés.
Preciso que esse ano me ensine a viver durante a semana e faça dos sábado um dia como outro qualquer.
Que minha rotina se acostume com seu corpo esparramado sobre o meu.
Que eu aprenda a respirar fundo
Que minha vida torne a atravessar a rua olhando pros dois lados.
Quero que esse ano me traga boas novidades, bons livros, boas histórias e novos textos.
Trabalhos felizes, amigos por perto, saúde e paz ao coração.
Que eu possa sorrir sempre que te olhar perto.
Que eu possa entender a sua partida.
Que eu reflita e respire meus atos com confiança.E principalmente que eu não me arrependa das escolhas feitas.

Mudaram as estações, nada mudou (será?!)

Mudou tudo.
Mudou o lado da cama
O jeito de dividir o cabelo
O cheiro do creme hidratante.
Mudou os hábitos alimentares
A mania de reclamar e a forma de trabalhar
Mudou de casa, de rumo, de humorMudou pra melhor.

Luz, quero luz, sei que além das cortinas são palcos azuis e infinitas cortinas com palcos atrás

Angustiada com o calor do verão ela despertou do sono.
Apalpou o criado-mudo buscando a jarra de água que havia deixado na noite anterior. Não a encontrou.
O suor empapava os lençóis que haviam sido tirados do varal naquele mesmo dia.
Estranhou o silêncio do ar-condicionado e viu-se obrigada a levantar para conferir o que podia ter acontecido.
No caminho até o interruptor tropeçou no pé da cama. Já um pouco irritada alcançou a parede com uma certa fúria de quem é desafiada. Lamentou essa ânsia por dormir no escuro total de seu refugiado quarto.
Apertou o botão, mas nada mudou. O escuro permaneceu.
Concluiu que a pequena trovoada que ouviu não era sonho e que possivelmente essa chuva teria comprometido a distribuição de energia na cidade.
Isso significava que o calor permaneceria, dormir seria então impossível.
Resolveu distrair-se com o celular, mas a bateria havia acabado. Não lhe restou nada.
Nem TV, nem a possibilidade de terminar de ler aquele livro novo.
Ficou então no escuro com seus pensamentos.
Lembrou-se de quantas vezes havia deixado a luz do banheiro acesa ou quando acordava no meio da noite, como havia acontecido agora, e apertava todos os interruptores do caminho.
Na volta sempre esquecia duas ou três lâmpadas acesas.
Lembrou dos banhos quentes e demorados, da mania de parar em frente à geladeira para pensar.
Apertou os olhos ainda mais, apesar do escuro, e teve a estranha sensação de desperdício.
Prometeu ser mais atenciosa, prometeu pensar nas gerações futuras e prometeu tanto que fez-se a luz!
Ela, agradecida e aliviada, escancarou as janelas pra deixar o vento entrar e alimentar seu escuro. Percebeu que o ventilador nem fazia tanta falta e dormiu leve, num sono profundo.

3/05/2008

*Direto do túnel do tempo...

*encontrei uns textos antigos, e decidi postá-los para não perder as memórias, histórias e incertezas...

Meu coração tirou férias
E assim, sem dizer a data da volta, ele arrumou as malas e se mandou!
Disse que tava cansado disso tudo aqui.
Que essa coisa de viver apertado, sentindo que ta faltando um pedaço, não valia mais à pena.
Também, o coitado sofreu nesse ano que passou...
Foram muitas dores para alguém tão pequeno.
Mãe no hospital, menino sumido, irmãs demitidas, avó doente...ele merecia mesmo um tempo a sós.
Com certeza vai pra algum lugar tranqüilo, uma montanha bem alta, com árvores que balançam, com sol fraquinho e chuva final no final do dia.
Ele levou casaco porque esperou muito o tal calor humano e quase congelou uma vez. Meu coração adora frio, mas odeia gelo.
Ele, é claro, vai morrer de saudade dos amigos que teve que deixar um pouquinho de lado para poder descansar, vai sentir falta da cerveja gelada de quarta-feira, das festas malucas, das risadas no carro, dos “quase amores” virtuais.
Mas ele quando voltar promete estar de cara nova, de sorriso aberto e de cabeça erguida.
Ele que já sonhou e esperou tanto tempo pra ser feliz decidiu que tirar férias e esquecer um pouco essa maluquice que a gente chama amor é a melhor maneira de se encontrar!
Meu coração tirou férias porque tava complicado pra ele administrar a falta de alguém que vive entrando sem ser convidado nos pensamentos do coitadinho.
Saiu de circulação porque não quer magoar um semelhante com ilusões bobas.
Vai fundo pequeno coração...vai que a gente fica na torcida. Volta quando tiver preparado, quando achar que chegou a hora de habitar um peito vazio.
Ou volta quando quiser, será sempre bem vindo! Só vê se não vai se engraçar por qualquer um no caminho...capricha na escolha que a gente te apóia.
Lembra de tudo que já passou...lembra como foi difícil transformar o primeiro amor em melhor amigo...quantos anos de choro escondido, hein?! Depois o segundo amor rejeitado...quando você quase secou de tristeza. E o último amor? Nossa, quem diria...nem você imaginava que seria assim. Você nunca pensou que a falta de um menino o faria tão mal, né? Pois é, fez...e como...e você até achou que nunca mais amaria. Mas agora chegou o momento de recomeçar, como diz aquela música que você tanto gosta!Meu coração tirou férias. Não tem hora nem dia pra voltar. Vai ser melhor assim...Boa viagem coração, fica tranqüilo que eu estou me virando bem sem você!
ano de 2003

2/20/2008

"vida ai minha vida, olha o que é que eu fiz"

Lá longe, onde o céu encontra o mar é onde mora minha esperança.
Mora acompanhada de peixes e estrelas, sonha acordada e dorme feliz.
Minha esperança de que tudo vai ser, um dia, exatamente como eu imaginei. Vai ser perfeito e pra sempre.
Minha esperança não cansa, não desiste, não se afeta nas dificuldades. Morre um pouquinho a cada dia que passa sem o sol do seu olhar, mas renasce aos finais de semana, cheia de vida, de força e de luz.
Ela sempre morou longe, gosta da distância, sente-se mais protegida. Minha esperança é utópica e ainda pensa em viver de palavras soltas, ou de grandes porções de macarrão com calabreza.
Nos dias nublados ela fecha os olhos de leve pra sentir o cheiro do mar.
Nos dias de sol ela veste seus óculos grandes e respira fundo.
Nos dias de chuva ela agradece aos céus. Mas sempre chove quando ela planeja vestir os óculos e dá sol quando ela precisa desaguar.
Mas a esperança divina não renega os problemas. Assumi-os como a filhos desgarrados e convoca todos os outros sentimentos pra ajudar.
Minha esperança é confusa, desastrada, às vezes grosseira, mas ama incondicionalmente aqueles poucos e bons.
Ama como mulher, ama como filha, ama como amiga.
Minha esperança me faz levantar todos os dias e tentar sempre fazer melhor.
Minha esperança é você.

"Passou o tempo e hoje eu vejo a maravilha de ser ter uma família, quanto tantos não a tem"

O Tempo, um senhor barbudo e de costas arqueadas, que sofre de terríveis dores nas juntas, já pediu licença pra poder passar. Eu era ainda muito menina e como não tinha pressa abri caminho para que aquele doce senhor pudesse prosseguir. Desde lá fiquei admirando a sua desenvoltura, a forma como ele ganha espaço e de repente some, e volta e desaparece novamente.

O Sr. Tempo sempre surge na minha frente e nunca consigo alcança-lo pra podermos conversar. O vejo passar, da janela dos meus quase 30 anos, assim como já vi muita gente por aqui, desde pequena eu uso o olho mágico da porta pra espiar quem vem.

Já vi mãe que não cabe em si de tanto amor, que oferece a vida em troca de um sorriso. A mãe que me escolheu como filha caçula, que não me planejou, mas que amou desde sempre essa peça pregada pelo destino. Quem diria que eu nasceria assim tão cabeluda?! Os vizinhos duvidavam da minha saúde. D. Lili já tinha quase 45 e a máxima daquele momento era a Sídrome de Down. Mas para contrariar tudo e todos, como sempre, eu vim bela e formosa.

Já vi pai chorando de dor de coração, mas não o coração que pulsa, esse coração muscular. Meu pai chorou uma dor de coração diferente, uma dor de perda, de não saber o que fazer.
Acho que ele chorou tão dolorido que o Sr. Tempo cedeu mais dias da sua caminhada para minha mãe. Meu pai chorou com medo de perdê-la.

Foram eles que me ensinaram que o amor não conhece o Sr. Tempo, e não se importa com a passagem dele, pelo contrário, o amor ri cada vez mais aberto com o passar do Tempo. E eu, que sempre fui de obedecer desobedecendo, achei que essa história de amor comigo não ia pegar.O sr. Tempo foi passando, foi me dando ancas largas e tirando a firmeza da pele. A vida foi andando e eu continuei a esperar.

Não seria tão divertido sem os irmãos por perto, é claro. Sem ter a Sandra a me educar, mostrando os caminhos certos e ensinando a falar. Falar alto, falar o que sente, falar pra fora. E me ensinando a cantar e a ter amigos. Muitos, sempre. Porque os amigos me fariam companhia em todos os momentos. Aprendi tão bem que hoje coleciono bons amigos de porta-retrato.

E tinha o Marinho, com sua atenção desmedida e um carinho infinito. E o André com seu olhar doce e seu abraço arrebatador. Que pedia cafuné e sanduíche. E que recebia sempre minha atenção redobrada, um ensaio, talvez, para a mulher que me tornaria. E o Adilson que me enchia de presentes lindos e caros. Que se preocupava com meu figurino nas festinhas e que me levava na Happy, a loja mais bacana da cidade.

E o Márcio com seu bom gosto musical e incrível. Com sua inteligência arrebatadora, com suas opiniões de esquerda, com a estrela vermelha cravada no peito. Foi com ele que eu bati pé e insisti em achar que a política pode funcionar e que acreditar é o primeiro passo para o sucesso do mundo. E a minha linda Cíntia, sempre severa consigo mesma e sempre tão altruísta. De onde ela poderia tirar tantas mãos pra estender? Nunca consegui descobrir, mas é a ela que meu coração recorre sempre, mesmo quando não precisa falar.

Minha família perfeita me ensinou a lidar com o Sr. Tempo, a dar tempo a ele, para que tudo se acalme dentro do peito. E se acalma mesmo, é só questão de tempo. E eu aprendi que no mundo sempre existe um sorriso pra olhar, um colo pra deitar e um amor pra amar.

Porque, mais uma vez contrariando as expectativas, o amor veio. De mansinho, quietinho, sem deixar recados. Veio na surdina, na festa despretensiosa, no olhar avassalador. E veio cheio de problemas e carências, exatamente do tamanho da minha vontade!

E o Sr. Tempo me acena de longe, com um sorriso discreto. E eu respondo correndo na vida, cumprindo seus horários e suas regras pra poder partilhar com pais, irmãos e amor uma vida cada dia melhor.

2/15/2008

"tanto fez, tanto faz, raio laser ou lampião a gás"

Então fica combinado assim.
Isso assim mesmo.
Certo, você jura que não vai voltar atrás?
Juro.
Posso confirmar então?
Sim, confirmadíssimo.
Tudo bem, mas você tem certeza?Tenho, garantido, pode confirmar.
Ok, então eu vou.
Beleza.
Estou indo, hein, não quer desistir?
Não, não quero.
Ainda dá tempo, tô avisando...
Não, já disse que está tudo certo.
Então tá bom, depois não reclame.
Não, não vou reclamar...
Estou fazendo a minha parte, você que sabe.
Sim, eu sei, tenho certeza.
Absoluta?
Mas que coisa, quer me fazer desistir?!
Não, claro que não, só quero ter certeza que você está ciente da sua decisão.
Estou.
Tá...
Tá o que?! Não acredita em mim?!
Acredito, acredito...
Não está parecendo.
É que eu fico com medo de você se arrepender depois...
Ah, estou te entendendo...você não quer vir, é isso!
Claro que não!Não quer vir???Não!!!! O não era pra sua afirmação.
Eu quero ir sim, lógico que quero.
Não está parecendo.
Ai, chega, minha cabeça já está confusa o suficiente.
Deixa pra lá, vamos beber o que?!
- e tudo isso dito no silêncio do nosso olhar.

2/08/2008

"nada vai mudar minha grudada em mim, nem meu rosto inchado de mágoa"

Chegou sozinha ao bar e foi recebida pela Tristeza, antiga boêmia conhecida que há tempos não via. Sentou-se na mesa do canto junto à Solidão e ao Constrangimento. Pediu uma cerveja e ficou calada até a chegada do Amor. Ele veio sério, trazendo na mochila as reclamações e incertezas. Quilos e mais quilos de incertezas.
Ela ficou insegura, como sempre. Tinha tantas dúvidas, tantas agonias trancafiadas na garganta...não entendia aquele olhar parado.
Precisava resgatar o Amor, traze-lo de volta ao seu colo, afagar a desconfiança para assim, descarta-la no texto mais próximo.
Mas o Amor ainda estava sério...tomou cigarro, fumou saudade, escreveu cerveja e confundiu os sentimentos para tentar se entender.
Depois de uns passos conseguiu perceber que o estrago nem era tão grande, e o abraço ainda envolvia seu corpo pequeno.
Cancelou a conta e pediu a saidera para comemorar, ele partiria em breve, mas prometeu voltar sem danos causados.
Basta agora esperar...e se entender...e se resolver...

"hoje eu quero sair só, não demora eu tô de volta"




Acordei assustada.
Procurei debaixo da coberta aquela mulher decidida, feliz da vida e não achei.
Não achei também a tia dedicada, atenciosa e conselheira. A tia caçula, que entendia os sobrinhos adolescentes e brincava de casinha e corrida de carrinho com os pequenos.
Fiquei desesperada.
Fui procurar então a filha carinhosa que sempre fui. Fucei pelos cantos do quarto e nada. Não achei a menina do papai, nem o dengo da mami. Não vi em parte alguma a filha doce e gentil.
Surtei.
No calor da hora eu fui então correr atrás daquela amiga genial e divertida que eu era. A amiga sempre disposta a ajudar, a ouvir e a tagarelar sobre a vida. Nada dela também.
Pirei.
Só me restou procurar a namorada apaixonada, segura, linda e feliz. Mas adivinhem? Ela também não estava lá. Não entendi muito bem o que aconteceu, nem quando aconteceu. Só descobri que daquele jeito não dava mais pra ficar.
Eu precisava desesperadamente me achar. Encontrar num jeito de arrumar o cabelo atrás da orelha que me fizesse voltar a ser completa, inteira e feliz.
Mergulhei num labirinto de perguntas, de lamentos, de saudades, um labirinto tão profundo que quase morri sufocada, ou melhor, quase me matei.
Por isso estou à procura de mim por aí. Se me vir em algum lugar, diga que estou esperando ansiosa a minha volta.
Que sinto falta dos cigarros despretensiosos na sacada, do sorrido no meio da tarde, de viver um dia depois do outro.
Avisa pra mim, se esbarrar comigo por aí, que faz uma falta danada aquele soninho depois do almoço, na cama dos pais, aninhada no colo da D. Lili. ouvindo o ronco do Sr. Mário vindo da sala ao lado.
Chega bem pertinho e me diz que as crianças estão sentindo a minha falta, que já não sou mais citada nas conversas de portas fechadas. Avisa que esqueceram o nome que dei ao bebê de brinquedo.
Convença a mim mesma que as amigas vão cansar de ligar e ouvir sempre um não, que desse jeito meu destino vai se enjoar de me fazer cruzar só com pessoas legais e vai me guardar num quarto escuro.
Não esquece de me lembrar o quanto o namoro era bom, leve, tranqüilo, gostoso.
Sei lá, dá um jeito de me fazer enxergar que eu sumi na vontade.
Que eu assumi não viver direito nenhuma das minhas necessidades e que desse jeito não dá pra continuar.
Qualquer coisa me liga, que o celular continua dormindo ao meu lado na cama.

1/28/2008

"tem certos dias em que eu penso em minha gente e sinto assim todo o meu peito se apertar"

- para o meu avó, que eu chamava de "Opa"

Essa noite eu sonhei com o senhor...me vi há 15 anos atrás, chegando do colégio cansada, bochechas vermelhas, braços doloridos de carregar o material, pés sufocando de calor no tênis “da hora”.
Empurrei o portão barulhento e passei no estreito corredor entre sua casa e o vizinho. Senti o cheiro que vinha do porão, aquele cheiro ocre de terra seca. Até ensaiei uma espiadela pelos buracos, mas já sabia de cor o que ele guardava.
Vi o senhor tão direitinho que ao acordar levei um susto com a vida que encontrei.
Olhei incrédula ao redor e minha irmã não estava na cama do lado.O despertador tocando e eu confusa com o mundo de gente grande me esperando. Tinha sido apenas um sonho bom.
O senhor estava confortavelmente sentado em sua cadeira de vime, balançando o corpo num ritmo lento e gostoso. Ao me ver sorriu, como fez durante toda a vida, levantou o braço direito e pude observar sua mãos de dedos já cansados.
No colo o rádio marron remendado de esparadrapo, na cabeça o velho chapéu e tantas lembranças.
O senhor costumava passar as tardes ali, analisando o quanto o mundo moderno havia modificado aquela rua, as casas, as pessoas. Conhecia todos, cumprimentava todos, sorria. Imagino quantas histórias não revivia.
Eu só pude acompanhar parte da sua vida, a última parte dela, infelizmente. Mas sempre me orgulhei dos seus lindos olhos azuis, das suas histórias, da sua cadeira de balanço, do fato do senhor ter sido uma pecinha na construção de uma cidade. Sempre me senti em casa na sua casa, mesmo não abrindo a geladeira nem para pegar água. Sempre morri de satisfação quando ganhava pequenas lembranças de aniversário...seus presentes, eu sei, eram simbólicos, mas davam a concreta certeza que o senhor me amava.
Na minha crítica adolescência eu queria ser bonita e inteligente, mas sempre tinha aquela prima magra e alta, com excelentes notas no boletim. O pouco de auto-estima se dilacerava quando aquela tia fazia questão de não demonstrar seu amor por mim.
Meu refúgio eram suas palavras, seu elogios aos meus traços germânicos, embora fosse eu a neta de cabelos mais pretos. Era no seu olhar de aprovação que eu buscava a serenidade para continuar, para não odiar o fato de ser pequena e acima do peso.
Minha rotina de estudante permitia que acompanhasse seu café da tarde, a única xícara, o único prato, a disposição dos talheres, o cheiro do café passado em coador de pano. Lembro da porcelana decorada, do seu pão com manteiga, do pedaço de lingüiça fora do prato.
Eu chegava de surpresa e o senhor sorria sempre pra mim, os lábios brilhando de gordura, a fala dificultada pela doença, a tosse que o constrangia.
Acho que crescer ao seu lado foi uma das melhores coisas da minha infância, eu que nunca caí de uma árvore, que nunca quebrei nenhum osso, que nunca escorreguei de calhão nos morros. Eu que sempre fui protegida, sempre gostei de ficar ouvindo as conversas dos adultos, que nunca achei genial as brincadeiras no mato.
Pelo menos hoje, aos 28 anos, com uma vida de verdade, um trabalho estressante, contas a pagar, posso me valer de ter tido um avó de verdade.
Um avô de livro, um avô que dá saudade. O senhor sempre foi especial para mim, sempre foi o preferido e sempre vai ser. O carinho, o orgulho e os elogios estão cuidadosamente guardados nas minhas melhores lembranças. Estão colocados no altar do passado, junto com tantas outras coisas boas de lembrar.
Hoje eu sinto falta dos seus olhos azuis, de brincar no quartinho das ferramentas, de sentar ao seu lado na varanda, mas tenho certeza que um pouquinho do senhor segue comigo, para todo o sempre, como devem ser os amores de família.Esteja onde estiver continue comigo...