11/11/2008

...quem que te mandou comprar conhaque com o tíquete que te dei pro leite...

Era um daqueles casais bonitos!
Combinavam no estilo das roupas, no gosto musical, na forma como percebiam a vida.
Apesar de alguns anos mais velha, ela trazia ainda uma certa malemolência de criança divertida que combinava com ele.
Ele tinha um olhar duro, um sorriso guardado que só derramava quando bem entendia, mas mesmo assim conseguia ser um poço de simpatia.
Uma combinação quase irresistível era ele ser um garotão de quase 30 anos, do tipo que fugia das responsabilidades enquanto ela era preocupada com contas e investimentos.
Era unânime a opinião das pessoas, tinham nascido um para o outro!
Ela era a caçula de uma grande família, e desde sempre foi rodeada de atenção. Talvez por isso fosse tão dedicada ao amor e aos carinhos.
Amava crianças pequenas, com destaque aos bebês perfumados. Adorava também os bichinhos de estimação, quanto mais peludos e pequenos, melhor.
Ele era um carente eterno, que fazia charme pra ganhar carinho a toda hora.
Um amante da boa cozinha, especialmente de massas e molhos saborosos, encontrou na namorada, um pouco acima do peso, a cheff mais deliciosa que poderia escolher. Com direito a prato principal, sobremesa e vinho do porto para digestão.
Ela era do tipo chorona, e ele do tipo cruel. Não foram poucas as vezes que as amigas a resgataram de uma inundação emocional.
Brigavam, nem muito, nem pouco. O suficiente para fazer das pazes a melhor parte do dia.
Eram divertidos e rodeados de pessoas preocupadas com o mundo.
Ela, apesar de ser independente e uma profissional bem resolvida, era mais ciumenta que uma mulher comum e menos ciumenta que uma mulher doente.
Nunca permitiu que terminassem, tinha certeza que se a decisão final fosse tomada ambos seriam orgulhosos demais para voltar atrás.
O que ninguém mais agüentava eram as discussões sobre futebol.
Ela flamenguista fanática, ele são paulino doente.
Por ela não haveria problema, o São Paulo nunca fora inimigo e qualquer coisa era melhor que namorar um vascaíno.
Ele não, nutria um ódio, um asco, uma aversão flamenguista que muitas vezes a humilhava sem nem perceber. Causava um mal-estar sombrio na alma dela.
Mas quem disse que a menina desistia de ser rubro-negra? Isso nunca! - ela insistia.
Isso seria virar outra pessoa, seria mudar de alma.
E as discussões rolavam soltas, rodada após rodada. Sem nenhum dos dois ceder um centímetro sequer.
E como toda boa briga vem sempre seguida de outras dúvidas e questões humanistas as deles não eram diferentes.
O fato dela ser publicitária, a culpa pelo consumo no mundo. A mania dele de não a apresentar para as amigas, a falta de atenção ao chegar e não beijá-la, o péssimo hábito de não fazer pequenos sacrifícios por ela.
E ele não deixava barato, vinha sempre com o papo de que ela nunca estava satisfeita com nada e que precisava tratar essa terrível falta de auto-estima.
E quando as coisas ficavam num patamar insuportável um dos dois baixava a guarda, respirava fundo e percebia que o caminho trilhado tinha sido bonito demais para estragar tudo assim, num erro do juíz.
E um sorriso era dado, um abraço era pedido e lá no fundo ambos se desculpavam pelas imprudências da língua.
E mesmo cobertos de dúvidas eles podiam jurar, nasceram um para o outro!

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