5/24/2007

Ando devagar porque já tive pressa

Escolhi não mais pensar em tudo.
Não lamento as escolhas feitas.
Elas são sempre validas.
Não lamento os erros cometidos, nem mesmo as declarações de amor tortas que já fiz.
Não desejo voltar no tempo para resolver os enganos.
Apenas caminho, ora com sol a pino, pra com a escuridão.
Percebo a cada sorriso novas marcas de expressão, novas perspectivas de vitória, novos começos.
Nada de ficar estagnada, apenas não permito atropelar experiências.
Não lamento as dores que sofri, muito menos as que causei.
Para ambas há sempre um belo começo que só teve inicio naquele fim.
Desejo ainda a paz completa e perene, só não corro atrás dela porque assim ela me escapa entre os dedos.
Sinto, com orgulho, o latejar dos meus músculos exaustos depois do amor, o pulsar acelerado do meu coração, a febre da vontade que não passa.
Não me afogo na dúvida do depois, apenas sigo em frente pra continuar.
E nem que seja só por um instante, continuo a sorrir.

Como se a alegria recolhesse a mão pra não me alcançar...

Passo os dias desviando meu pensamento de você.
O pior é que você me persegue nos detalhes da vida, nos sussurros do vento e da tempestade.
Passo horas buscando uma nova atividade, um outro foco, esqueço que te amo e dou bola pra qualquer canalha que cruza o meu caminho.
Mas volto pra casa sozinha, no teto do quarto está seu sorriso desenhado e no colchão o formato dos nossos corpos abraçados. Fico com raiva do desconforto de dormir sozinha.
Talvez seja tarde pra tentar esquecer ou cedo demais pra mergulhar assim, tão profundamente, num desejo que nem eu entendo direito.
Não consigo parar. É mais forte do que eu, é indiscutivelmente mais forte do que todas as minhas vontades de ser esquecida.
O telefone pula na minha mão e os dedos discam eufóricos o seu número. Um, dois, três, quatro, cinco toques e do outro lado da linha está o silêncio. Odeio essa atitude fraca de te buscar no escuro, sempre andei de olhos vendados porque diabos essa mania de luz, agora?
Não quero mais te prender na garganta, preciso soltar esse grito que amarra a minha vida à sua respiração, preciso suspirar de alívio, não de tensão.
Onde foi parar minha independência, minha auto-suficiência?
Não sei se quero isso, se quero aquilo ou se quero os dois ao mesmo tempo.
Se acabar hoje já tenho programa pra amanhã, mas é sessão repetida e canso de escutar os lamentos da chuva. Preciso de você de volta, rápido, antes que eu desista de ser assim bonita.

Quantas pessoas que você amava hoje acredita que amam você?

Minha mãe...

Desculpe se minhas mãos cresceram demais e esqueceram, lá atrás, os carinhos que alimentavam seu rosto bonito.
Desculpe se meu corpo acabou ultrapassando os limites do colo e não passo mais os dias lhe abraçando enquanto descasca batatas.
Desculpe-me.
Desculpe o cansaço dos pés exaustos que nem sempre me levam até você nos finais de semana. Ou por seguidos finais de semana.
Desculpe o humor instável de um dia duro que não poupa a minha boca de derramar calúnias aos seus ouvidos.

Obrigada, porque apesar de não ter mais esses olhos atentos eu continuo exigindo a sua compreensão. E você me oferece toda a sua vida quando percebe isso.
Sei que minhas bochechas agora precisam ser divididas entre tantos outros amores e que nem sempre sobra espaço pro seu beijo.
Preciso agradecer.
O coração de filha caçula aprendeu, desde cedo, a orbitar em torno de si mesmo e isso causa um certo mal estar sofrido.
Quando isso acontece eu recorro a você, sem o menor pudor, e uso seu amor como um bálsamo pras enfermidades da minha alma.
Desculpe se não agradeço como deveria.
Desculpe tantas desculpas, deveria transformá-las em ações, mas só sei fazer palavras escritas.

5/10/2007

Eu que sempre fui tão insconstante...

À espera


Sentei-me na praça a espera de alguém. Detesto ter que esperar por isso meus atrasos são justificáveis, pelo menos para mim mesma. Na falta do que fazer e pensar fiquei reparando na menina de cachinhos que brincava na caixa de areia. Que será dessa menina daqui uns anos, pensei. Quem serão seus pais?
Talvez o casal apaixonado sentado no banco em frente, tão preocupados com seus próprios desejos, tão ocupados com seus anseios e ciúmes, inseguros do próprio amor. Eles certamente não reparavam na fragilidade daquela menina, na imensa vontade dela de ser protegida e amada incondicionalmente. Não reparavam nos seus castelos que desmoronavam enquanto ela suplicava atenção com os olhos pretos de cílios tão compridos.
Ou talvez fosse a senhora mais velha, com os óculos dispostos na ponta do nariz, ar de formalidade e livro cuidadosamente apoiado sobre os joelhos. Os joelhos cobertos por uma grossa saia xadrez, tão fora da moda atual. A moda exigia coisas demais, eu pensei. A tal senhora poderia ser a mãe da menininha, ou talvez até avó, hoje em dia as mulheres estão tendo seus filhos cada vez mais cedo. Mas será? Será que aquela senhora não reparava na delicadeza daquelas mãos tão sujas de areia? Será que ela não se sensibilizava com a risada de satisfação a cada nova obra construída? Não se enternecia com aqueles cachinhos caindo sobre os olhos?
E a menina tinha o extremo cuidado de tirar o cabelo com um leve toque dos seus dedinhos, na primeira vez havia enchido os olhos de areia e parece ter aprendido sozinha, que todo cuidado naquela ação era necessário para não se ferir de novo.
Talvez a mãe fosse aquela jovem mascando chiclete que falava ao orelhão. A jovem que ria alto e que não sentia vergonha de estar sendo observada pelos ouvintes na fila esperando que sua interminável conversa acabasse. A jovem que levava ao pé da letra a moda atual...definitivamente ela gostava de mostrar as pernas! Mas ela não conseguia deixar de pensar somente em si, não poderia ser mãe de uma criança tão meiga, tão envolvida numa brincadeira de criar. Se ela fosse mãe da menininha certamente teria reparado as bochechas vermelhas do calor, os pezinhos espichados para fora da caixa, como quem quer ser resgatada. Certamente ela teria desligado o telefone e corrido ao seu encontro, oferecendo a ela um enorme sorvete como recompensa ao capricho com que havia construído seus castelos.
E se eu fosse a mãe da menina dos cachinhos? Será que assim como as outras pessoas eu não me comoveria aos seus encantos? Será que ela se tornaria comum aos meus olhos? Estava tão encantada com aquela criança que não percebi que também estava sendo observada. Ao encontrar meus olhos com outros olhos que me analisavam senti-me corar.
Logo surgiu uma mulher, dessas que trabalham pelo menos 8 horas diárias e bancam sua vida com dureza e honestidade. Calça jeans surrada e confortável, camiseta branca, chinelos de borracha. Os cabelos presos num rabo-de-cavalo denunciavam alguns cachos tentando desprender-se.
Ela abaixou-se, beijou a fronte da menininha, prendeu o cachinho que insistia cair com um pequeno grampo, limpou suas mãos e com palmadas suaves bateu a areia grudada na roupa. Sentou-se com ela na beirada da caixa e dedicou-se às suas pequenas descobertas na areia. Riu com ela das minhocas que surgiam, vibrou com ela, sorriu com ela, viveu com ela aquele momento mágico. Entre túneis e bichinhos feitos com fôrma de plástico as duas se entregaram aos prazeres da simplicidade.
Pensei, então, que quando o amor existe de verdade e há entrega e cumplicidade, tudo é possível. Tudo é renovado. Tudo é justificável. É preciso fazer com que ele aprenda sozinho algumas defesas, mas é preciso também resgatá-lo vez em quando. Mimar o amor. Afagá-lo dentro de si. Observá-lo de longe e deixa-lo florescer.
Nesse meio tempo quem eu estava esperando aconchegou-se ao meu lado no banco. As bochechas vermelhas da vinda pedalando, a mochila azul, o boné. Nas mãos uma flor. Mais uma! – eu pensei. Ele me trazia flores em todos os encontros. Flores roubadas, flores do próprio jardim, flores dos canteiros públicos. Beijou-me o rosto, e me mimou, e me afagou, e me provou, mais uma vez, que amar é simples.

5/09/2007

Beijo na boca tem gosto de pitanga...

- e a resposta veio

Por que justamente quando você decide espalhar entre as melhores amigas seu novo amor, acontece isso...No tal texto você diz com todas as entrelinhas possíveis que vai abrir mão de tudo e todos. E num belo momento, entre uma tragada e um assunto, o outro liga.
Assim como se nada fosse, como se o Chile ficasse ali do lado da padaria do Sr. Ancelmo.
E você, com toda a cara de pau do mundo inteiro reunida a todas as caras de pau dos outros planetas, permite-se mais uma vez.
Essa deve ser, pelas minhas contas, a terceira despedida oficial. De fato elas são ótimas despedidas...pelo menos o que eu ouço é pura diversão!
Mas e aí?! Vai me dizer agora que o surf é um vício que não consegue largar, assim como as malditas palavras e o cigarro? Vai querer me convencer que é difícil dizer não, que você o ama, que é o cara certo.
Ora, convenhamos, você descobriu há tempos que existe prazer com amor, mas que existe muito prazer sem amor também. E como!
Assuma que se diverte com ele e é só. Assuma que sua carência absurda toma conta da sua boca fazendo ela dizer: “sim, pode vir” quando ela deveria dizer “ei, me mira, mas me erra!”.
Ah tá...então você admite que é mais uma das suas escapadelas da solidão...tudo bem, desse jeito eu aceito. Mas e o seu amor pelo Pequeno? Não ficou sufocado nos amassos da noite?!
Ou você agora vai me dizer que deixou o amor sentado no sofá da sala enquanto suava no quarto?
Quando você vai crescer e assumir o que sente e correr atrás disso e lutar com unhas e dentes e vencer, assim como faz todos os dias para sobreviver? Assim como programa e faz milagres com a grana dos malucos insuportáveis dos seus clientes. Se você consegue resolver tantos problemas, ser legal com tantas pessoas, ter amigos tão perfeitos, como é que não consegue enxergar que sua vida não pode continuar assim? Se você mesma não sabe o que quer ou o que sente como pretende que algum homem o faça? Vai lá, responde agora! Não é você que sempre tem uma resposta para tudo? Não é você que sempre tem um conselho ou uma piada para todas as situações? Não é você que inventa histórias para disfarçar a pouca vontade de estar sozinha?
Pois bem, penso que já falei demais, fique com as suas conclusões e me procure quando precisar desabafar. Jamais deixarei de te ouvir e sorrir, mesmo que eu não concorde com suas atitudes.
Apenas me preocupo com você e com essa mania de se boicotar todo o tempo.
...
Encarou o espelho, apagou a luz e deitou mais aliviada.

Mas eu não vim até aqui pra desistir agora

- há tempos atrás...

Acordou 10 minutos antes do relógio despertar e não teve vontade de morrer por isso.
Ao contrário, pulou da cama e foi ao banho matinal, rotina que mantinha desde os tempos de colégio.
Ao voltar pro quarto percebeu-se passando muito mais camadas de hidratante que o habitual e rímel e lápis e perfume importado...foi aí que se deu conta!
Aquele gosto estranho na boca, aquela sensação na barriga (igual ela sentia quando lembrava de algo muito importante que havia esquecido) Os olhos mais brilhantes, os cabelos mais crespos, o sorriso mais sincero...estava apaixonada!
O fato estava consumado e a consumindo, nada mais podia ser feito. Adeus reclamações por não encontrar nenhum homem decente sobre a face da terra, adeus dias de ressaca moral por ter beijado um imbecil acéfalo, adeus culpa boba por sexo casual.
Estava invariavelmente apaixonada e com uma terrível vontade de trazê-lo rápido para sua vida, sua rotina, seus amigos, sua cama...
Sua vida estava à beira do precipício e ela estava achando ótimo!
A grande decisão agora era pular ou não pular!
Se jogar colocaria em risco várias outras intempéries as quais estava acostumada. Teria que largar definitivamente as reticências e o mar agitado. Nada mais de grandes ondas surfadas num cansativo e delicioso jogo de remar. Nada mais de textos sem ponto final.
Teria que abrir mão, inclusive, de seu poeta querido e todas as fantasias que projetava no teto do quarto, nas noites de insônia.
Pular do precipício poderia trazer danos já conhecidos como cicatrizes e luxações, ela já havia pulado lá de cima outras vezes e apesar da deliciosa sensação de queda livre, a chegada ao chão fora, diversas vezes, desastrosa.
Fitou o espelho, seu fiel escudeiro e reparou que a pequena ruga entre as espessas sobrancelhas estava lá, marcando o incômodo de não saber como agir.
Será que valeria a pena pular por um homem que a confundia?! Sim, porque ao mesmo tempo que ele era terno e preocupado, se mostrava distante. Quando as coisas esquentavam ele saía pela tangente. Ainda não entendia porque ele não avançava definitivamente o sinal, porque não a seduzia a ponto de se jogar nos seus braços, ela que estava sempre com o coração saltando e morrendo de vontade.
Mas ele também tinha desejos e vontades, ela sentia, não era mais tão ingênua...sabia que ele também queria, mas que ele preservava alguma coisa intocável...não tinha certeza se era um sentimento, um medo ou uma desculpa qualquer por um trauma, digamos assim, corporal.
Quem sabe o seu pequeno não se sentia avantajado suficiente para encarar sua fama de mulher fatal? Apenas suposições...apenas loucuras de sua mente criativa.
Ou fatos que não tinham explicação. Simples assim. Passou de longe, nos seus mais íntimos pensamentos, o fato de ele simplesmente não estar afim...mas foi um pensamento passageiro, sua auto-estima nas alturas jamais deixaria esse intruso retornar.
Pular ou não pular era uma decisão que precisava ser tomada, definitivamente.
Mas o relógio apontou o atraso, o ônibus que não a esperaria e as montanhas de papel que a aguardavam ansiosamente sobre a mesa eram a rotina que precisava encarar.
Esperaria mais um pouco para tomar sua decisão final. Lembrou-se então do combinado. O final de semana seria decisivo...depois do filme, de algumas cervejas e investidas ela observaria cautelosamente suas reações (suas e dele) e chegaria a uma conclusão. Será que chegaria?!
Vinte minutos de atraso e a corrida até o maldito enlatado amarelo que a levaria à cidade vizinha...um longo suspiro, uma conferida no decote, um sorrido para si mesma e rumo à vida real. No caminho só mais um pensamento: “pequeno, pequeno...eu quero muito! Por que diabos você não me quer?”.

5/08/2007

Essa é a barca para a Ilha do Mel...

- eu sei que vai passar rápido...

Estou arrumando tudo pra quando você chegar. Temos tempo eu sei, mas preciso de ordem pra te esperar.
No armário coloquei um ou dois sonhos impossíveis que é pra gente sonhar junto depois do despertar.
Guardei também os segredos nas gavetas para que possas desvendá-los...um a um...assim teremos sobras para amar entre um e outro.
Na cozinha eu caprichei e enchi a geladeira de idéias tortas, sorrisos doces, mãos suaves e até uns olhares ainda quentes. Reservei também algumas receitas de felicidade (dizem que não funcionam, mas acho que se prepararmos juntos vai ficar uma delícia).
Nas janelas pendurei cortinas finas que balançam com a brisa do mar. Comprei também um sol para gente usar em dia frio e aquela lua linda que é pro romance nunca acabar.
Não consegui jogar todas as lembranças fora. Aquelas mais bonitas eu coloquei na estante da sala que é pra todo mundo ver. As ruins encaixotei e tranquei no porão, se precisarmos (espero que não)saberemos onde encontrar.
Pra sacada eu chamei o vento e uma sombra pra refrescar Não esqueci da janela bem grande no quarto pra gente soltar fumaça depois de sonhar.
Expulsei os velhos medos e abri novas contas de vontade. Um investimento simples, mas que me trará sempre o desejo de ter você cada vez mais perto do meu olhar.
Deixei em cima da cama meu pijama preferido, bem esticado que daí fica ainda melhor pra você me amarrotar.
No meu peito coloquei toda a vontade, tá aqui, bem guardada, só te esperando voltar.
O tempo é longo, eu sei, parece se arrastar, mas a gente leva a vida assim mesmo, adiantando os sorrisos e os minutos pra poder comemorar.

- volta logo...

5/03/2007