2/08/2008

"hoje eu quero sair só, não demora eu tô de volta"




Acordei assustada.
Procurei debaixo da coberta aquela mulher decidida, feliz da vida e não achei.
Não achei também a tia dedicada, atenciosa e conselheira. A tia caçula, que entendia os sobrinhos adolescentes e brincava de casinha e corrida de carrinho com os pequenos.
Fiquei desesperada.
Fui procurar então a filha carinhosa que sempre fui. Fucei pelos cantos do quarto e nada. Não achei a menina do papai, nem o dengo da mami. Não vi em parte alguma a filha doce e gentil.
Surtei.
No calor da hora eu fui então correr atrás daquela amiga genial e divertida que eu era. A amiga sempre disposta a ajudar, a ouvir e a tagarelar sobre a vida. Nada dela também.
Pirei.
Só me restou procurar a namorada apaixonada, segura, linda e feliz. Mas adivinhem? Ela também não estava lá. Não entendi muito bem o que aconteceu, nem quando aconteceu. Só descobri que daquele jeito não dava mais pra ficar.
Eu precisava desesperadamente me achar. Encontrar num jeito de arrumar o cabelo atrás da orelha que me fizesse voltar a ser completa, inteira e feliz.
Mergulhei num labirinto de perguntas, de lamentos, de saudades, um labirinto tão profundo que quase morri sufocada, ou melhor, quase me matei.
Por isso estou à procura de mim por aí. Se me vir em algum lugar, diga que estou esperando ansiosa a minha volta.
Que sinto falta dos cigarros despretensiosos na sacada, do sorrido no meio da tarde, de viver um dia depois do outro.
Avisa pra mim, se esbarrar comigo por aí, que faz uma falta danada aquele soninho depois do almoço, na cama dos pais, aninhada no colo da D. Lili. ouvindo o ronco do Sr. Mário vindo da sala ao lado.
Chega bem pertinho e me diz que as crianças estão sentindo a minha falta, que já não sou mais citada nas conversas de portas fechadas. Avisa que esqueceram o nome que dei ao bebê de brinquedo.
Convença a mim mesma que as amigas vão cansar de ligar e ouvir sempre um não, que desse jeito meu destino vai se enjoar de me fazer cruzar só com pessoas legais e vai me guardar num quarto escuro.
Não esquece de me lembrar o quanto o namoro era bom, leve, tranqüilo, gostoso.
Sei lá, dá um jeito de me fazer enxergar que eu sumi na vontade.
Que eu assumi não viver direito nenhuma das minhas necessidades e que desse jeito não dá pra continuar.
Qualquer coisa me liga, que o celular continua dormindo ao meu lado na cama.

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