Angustiada com o calor do verão ela despertou do sono.
Apalpou o criado-mudo buscando a jarra de água que havia deixado na noite anterior. Não a encontrou.
O suor empapava os lençóis que haviam sido tirados do varal naquele mesmo dia.
Estranhou o silêncio do ar-condicionado e viu-se obrigada a levantar para conferir o que podia ter acontecido.
No caminho até o interruptor tropeçou no pé da cama. Já um pouco irritada alcançou a parede com uma certa fúria de quem é desafiada. Lamentou essa ânsia por dormir no escuro total de seu refugiado quarto.
Apertou o botão, mas nada mudou. O escuro permaneceu.
Concluiu que a pequena trovoada que ouviu não era sonho e que possivelmente essa chuva teria comprometido a distribuição de energia na cidade.
Isso significava que o calor permaneceria, dormir seria então impossível.
Resolveu distrair-se com o celular, mas a bateria havia acabado. Não lhe restou nada.
Nem TV, nem a possibilidade de terminar de ler aquele livro novo.
Ficou então no escuro com seus pensamentos.
Lembrou-se de quantas vezes havia deixado a luz do banheiro acesa ou quando acordava no meio da noite, como havia acontecido agora, e apertava todos os interruptores do caminho.
Na volta sempre esquecia duas ou três lâmpadas acesas.
Lembrou dos banhos quentes e demorados, da mania de parar em frente à geladeira para pensar.
Apertou os olhos ainda mais, apesar do escuro, e teve a estranha sensação de desperdício.
Prometeu ser mais atenciosa, prometeu pensar nas gerações futuras e prometeu tanto que fez-se a luz!
Ela, agradecida e aliviada, escancarou as janelas pra deixar o vento entrar e alimentar seu escuro. Percebeu que o ventilador nem fazia tanta falta e dormiu leve, num sono profundo.
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