5/09/2007

Mas eu não vim até aqui pra desistir agora

- há tempos atrás...

Acordou 10 minutos antes do relógio despertar e não teve vontade de morrer por isso.
Ao contrário, pulou da cama e foi ao banho matinal, rotina que mantinha desde os tempos de colégio.
Ao voltar pro quarto percebeu-se passando muito mais camadas de hidratante que o habitual e rímel e lápis e perfume importado...foi aí que se deu conta!
Aquele gosto estranho na boca, aquela sensação na barriga (igual ela sentia quando lembrava de algo muito importante que havia esquecido) Os olhos mais brilhantes, os cabelos mais crespos, o sorriso mais sincero...estava apaixonada!
O fato estava consumado e a consumindo, nada mais podia ser feito. Adeus reclamações por não encontrar nenhum homem decente sobre a face da terra, adeus dias de ressaca moral por ter beijado um imbecil acéfalo, adeus culpa boba por sexo casual.
Estava invariavelmente apaixonada e com uma terrível vontade de trazê-lo rápido para sua vida, sua rotina, seus amigos, sua cama...
Sua vida estava à beira do precipício e ela estava achando ótimo!
A grande decisão agora era pular ou não pular!
Se jogar colocaria em risco várias outras intempéries as quais estava acostumada. Teria que largar definitivamente as reticências e o mar agitado. Nada mais de grandes ondas surfadas num cansativo e delicioso jogo de remar. Nada mais de textos sem ponto final.
Teria que abrir mão, inclusive, de seu poeta querido e todas as fantasias que projetava no teto do quarto, nas noites de insônia.
Pular do precipício poderia trazer danos já conhecidos como cicatrizes e luxações, ela já havia pulado lá de cima outras vezes e apesar da deliciosa sensação de queda livre, a chegada ao chão fora, diversas vezes, desastrosa.
Fitou o espelho, seu fiel escudeiro e reparou que a pequena ruga entre as espessas sobrancelhas estava lá, marcando o incômodo de não saber como agir.
Será que valeria a pena pular por um homem que a confundia?! Sim, porque ao mesmo tempo que ele era terno e preocupado, se mostrava distante. Quando as coisas esquentavam ele saía pela tangente. Ainda não entendia porque ele não avançava definitivamente o sinal, porque não a seduzia a ponto de se jogar nos seus braços, ela que estava sempre com o coração saltando e morrendo de vontade.
Mas ele também tinha desejos e vontades, ela sentia, não era mais tão ingênua...sabia que ele também queria, mas que ele preservava alguma coisa intocável...não tinha certeza se era um sentimento, um medo ou uma desculpa qualquer por um trauma, digamos assim, corporal.
Quem sabe o seu pequeno não se sentia avantajado suficiente para encarar sua fama de mulher fatal? Apenas suposições...apenas loucuras de sua mente criativa.
Ou fatos que não tinham explicação. Simples assim. Passou de longe, nos seus mais íntimos pensamentos, o fato de ele simplesmente não estar afim...mas foi um pensamento passageiro, sua auto-estima nas alturas jamais deixaria esse intruso retornar.
Pular ou não pular era uma decisão que precisava ser tomada, definitivamente.
Mas o relógio apontou o atraso, o ônibus que não a esperaria e as montanhas de papel que a aguardavam ansiosamente sobre a mesa eram a rotina que precisava encarar.
Esperaria mais um pouco para tomar sua decisão final. Lembrou-se então do combinado. O final de semana seria decisivo...depois do filme, de algumas cervejas e investidas ela observaria cautelosamente suas reações (suas e dele) e chegaria a uma conclusão. Será que chegaria?!
Vinte minutos de atraso e a corrida até o maldito enlatado amarelo que a levaria à cidade vizinha...um longo suspiro, uma conferida no decote, um sorrido para si mesma e rumo à vida real. No caminho só mais um pensamento: “pequeno, pequeno...eu quero muito! Por que diabos você não me quer?”.

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