9/17/2007

Quem saberá a cura do meu coração, se não eu

- Inspirado em Fabrício Carpinejar

Licença poética: “Sexo com amor, política com amor, ética com amor, amizade com amor é bem melhor. E natural. Ainda que demore, durará mais do que uma mentira.


Sempre fui passional, romântica, rasgada.
Sempre me joguei nos amores que tive, sempre me servi de bandeja, às vezes inteira, outras aos pedaços pra facilitar a vida de quem me devorava.
Sempre fui dramática, intensa. Sempre que agarrei aos amores como se fossem a minha única salvação nesse mundo sem paixão. Mas sempre voltei sozinha pra casa.
Sempre dormi agarrada aos travesseiros da infância, sempre usei calcinhas de algodão.
Sempre tive paixão. Pelos livros, pelas palavras escritas, pelas letras das músicas, pelos gatos, pelos homens do mar, pelo mar.
Sempre fui apaixonada pelas minhas idéias tortas, pelo meu trabalho que tão pouco me engrandecia como gente, pelos amigos que insistia em colecionar.
Mas nunca permiti que entrassem na minha vida os homens que eu amei. Julgava ser uma infeliz e incompreendida mulher quando na verdade eu estava apenas ensaiando um grande amor.
Faltava coragem para abrir as portas do meu quarto tão pequeno e conjugar o verbo na primeira pessoa do plural. Sempre fui só “eu”, não sabia ser “nos”. Cabia a mim amar sozinha, ser sozinha, sentir sozinha.
Assim amei meninos, pais-de-famíla, poetas. Assim julguei sentimentos e sensações.
Os pés sujos, as meias verdades que são pior que as mentiras, a distância, a falta de consideração e respeito, o medo e a covardia. Reunia todos esses sentimentos e mais uma vez me julgava a infeliz mulher que era tanto e ganhava tão pouco.
Tantos amores perdidos que eu considerava nunca mais reencontrar. Culpava os tolos que tentaram entrar, coitados, só eu sabia que a única que tinha a chave do portão era eu mesma. E eu não iria abrir de jeito nenhum.
Presava a minha liberdade, a minha sanidade e a minha castidade. Não queria que ninguém me invadisse assim, de qualquer jeito. Sexo com amor nem pensar, isso era intimidade demais.
Até você chegar. Sem aviso prévio, torto, com número errado e encontro desmarcado. Mas você chegou com as mãos vazias, com o peito escancarado e os olhos brilhantes.
Chegou por trás já adivinhando meus pontos fracos, já beijando minhas costas, já se enrolando nos meus cabelos.
Chegou sem desculpas, sem intenções. Simplesmente veio e sorriu. E me ninou nos seus braços e me fez menina, eu que só pensava em ser mulher.
E você orbitou o meu mundo de um jeito que acabei cedendo e te puxando pra dentro de mim, implorando pra você não parar, pra você não sair nunca mais.
E você ficou. E você me amou.
E só depois que você tomou posse das minhas terras, com garra, com força, com cuidado, só agora eu entendi o que é realmente ser livre.
Só agora eu entendi que você só entrou porque eu permiti e eu permiti porque você mereceu e você mereceu porque eu te ensinei o caminho e eu te ensinei o caminho porque você insistiu e você insistiu porque viu que valia a pena e você viu que valia a pena porque eu implorei pra você tentar e você tentou...e eu entendi...
E hoje eu te amo, simplesmente. E a maior prova do meu amor é justamente a minha dedicação sem cobranças, a minha fidelidade sem esforço, a minha atenção sem intenção, o meu sorriso sem cócegas, o meu corpo entregue sem resistência, a minha vida no plural.

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