Pra me inspirar eu escuto músicas tristes.
Gosto de histórias tristes, de sentir os acordes doendo dentro do peito, invadindo os ouvidos com uma arrebentação sofrida de mar preso no calçadão.
Pra me inspirar eu encho os olhos de lágrimas, lembro do pai e da mãe e isso sempre me faz chorar.
Algumas vezes eu não percebo, mas sinto uma dor enorme de escrever, de escrever e cantar, de cantar baixo e pra dentro, pra não atrapalhar quem está perto. Mas o choro é sempre pra fora. Hoje eu aprendi a chorar sem fazer barulho, é quase um segredo, não fosse pelo nariz vermelho ninguém perceberia.
Pra me inspirar eu lembro o Uno preto e a canção de Oswaldo, e eu sempre choro nessa hora.
Às vezes eu preciso parar para secar o rosto, pra respirar pela boca e congelar a alma que é louca e morre de saudade. A minha alma tem uma ânsia louca de correr pelas ruas gritando.
Pra me inspirar eu lembro os desastres que já causei, os corações humilhados que tranquei debaixo de tantos cadeados. Aqueles corações que foram usados só pra consertar a minha estima covarde de se mostrar.
Lembro do meu pobre coração que já foi partido tantas vezes e que continua se jogando nos abismos claros. O coração que nunca está contente e que roga por mais atenção, por mais atenção, por mais atenção.
Pra me inspirar e chorar eu procuro os recados que você deixa pra trás, eu busco uma carta não enviada, um texto mal escrito implorando ser terminado. Ouço Los Hermanos no último volume para poder me apaixonar mais um pouco.
Lembro do poeta, do menino, dos pés sujos trilhando minha casa...lembro que não fui feliz ao seu lado.
Às vezes dói a cabeça, o corpo fica pesado e a boca esquece de falar. O olhar fica perdido num ponto que não existe e a falta de vontade invade a sala sem janelas.
Tem dias que eu só penso em correr, pra longe, bem longe onde nada dê errado, onde a mania de demonstrar o que sinto não seja motivo de desculpas mais tarde.
Os dias se arrastam.
Pra me inspirar eu corro pra esquina, ajeito o decote e procuro um olhar de desejo.
Pra me inspirar eu lembro as primeiras palavras das crianças que amo, e nessas horas o riso sai frouxo, como pluma no vento da praia.
Eu penso forte. Ajo com destreza e ousadia, acredito que o melhor sempre vem, mas ele demora tanto.
Só que a alegria ganha força nessa hora e me inspiro sempre mais a ser feliz...demore o tempo que quiser, mas venha me encontrar felicidade. Vem que eu to inspirada!
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