9/17/2007

Eu sou de paz eu sou do bem, mas não me deixe só...

Preciso ficar em quieta ao teu lado, cabeça apoiada no teu peito, ouvindo apenas o silêncio ruidoso do meu quarto. Preciso te provar que meu silêncio diz mais do que qualquer palavra que sai da minha boca.
Ela não sabe medir a minha vontade, não em palavras. Minha boca nunca soube se comportar.
Minhas mãos precisam te percorrer com urgência, para confundir minhas digitais com a tua pele. Não existe mais a mesma mulher, depois de ti eu tive que me reinventar. Mudar de tom, refazer a moldura da janela.
Meus livros pedem socorro, mas nem eles eu ouço mais, fiquei surda quando teu corpo me falou coisas bonitas.
Eu caminho até minha casa como quem está indo para um campo de concentração. Não sinto mais o teu cheiro na minha coberta e não enxergo mais o teu desenho no meu colchão.
Preciso de novas lembranças, as minhas estão cansadas, esgotadas de tanto alento.
Onde foi parar a minha pressa? A saudade do que ainda não vivi? O medo dos pés trilhando o meu caminho?
Tu me fizeste amarela de novo e tiraste das gavetas do armário a minha flor de cetim, guardada com cuidado pelo último morador.
Trouxeste de volta a flor, a menina, a vontade de me perpetuar.
Eu preciso ter certeza que a minha agonia será perdoada pela eternidade, mesmo que eu não possa ir pro céu contigo, já me basta subir às nuvens numa cama flutuante.
O amor me roubou o veneno de todos os dias, tirou o amargo da minha pele e eu descobri que não era vício, era hábito.
Volta pra eu redesenhar o meu sorriso num balão de gás, volta pra eu mergulhar meus pés na areia molhada, volta pra eu respirar debaixo d’água um suspiro sem fim. Volta pra me buscar. Volta?

O importante é que eu cheguei agora, alegre como sempre, feliz a cantar...

- para Sabrina, Andreza e Priscila

Enfim, saudade! Quando você pensa muito em alguém que gostaria de ter por perto, pelo menos uma vez ao dia, sim...isso é saudade. E a saudade, em alguns casos, não é ruim, apesar de doer forte. A saudade é a prova física de que temos amor demais pra dar e receber. A saudade nos mostra que a distância é mesmo uma merda e que é preciso inventar logo o teletransporte. E quando a saudade acumula horas de conversa e anos de amizade ela dói mais fundo. E você precisa se movimentar com calma pra ela não mexer a lâmina afiada que lhe corta o coração. E ela fica sussurrando no seu ouvido piadas internas, músicas, letras e poemas. Faz você enxergar no horizonte um ônibus lilás, um gol branco, um ciclista qualquer...faz você ter rompantes e dizer "arruma a gola dele", faz até você queimar o gener...pobre gener e seu calção de corrida. A saudade faz você se refugiar na casa da árvore, chorar de medo do telhado que estala e das decisões que precisa tomar. Ela, vez em quando, grita e bate na sua cara quando você esquece as datas especiais, mas depois te libera a sensação de alívio quando lembra que será perdoada. A saudade também te aconselha a seguir em frente, a pular o precipício, porque certamente você terá três grandes abraços fortes te acolhendo depois da queda. A saudade se orgulha das suas vitórias, lá de longe, sorrindo. Ela analisa seus amores pelo buraco da fechadura e mesmo quando ele é do tamanho do seu sonho ela dá um palpite pra incrementar a história. A saudade odeia de morte os cretinos, acéfalos, esquisitos e casados. Odeia lembrar que machucaram as almas que você ama tanto. Odeia. Mas ela também afaga a vontade e diz pra ela que é só dar tempo ao tempo, que tudo se resolve, inclusive a distância. E se busca nessa hora um colo de seis mãos, cheias de idéias geniais e diferentes sobre a vida e a morte. Busca ajuda no pensar pulsante de uma grande amizade.

E o pulso ainda pulsa

acorda.trabalha.corre.procura.atende.café.condução.
atraso.liga.demora.trânsito.filho.escola.lição.
escritório.estresse.dia.noite.horaextra.sufoco.avião.
cancela.voa.fome.frio.chegada.doença.reunião.
terno.camisa.gravata.calor.celular.bateria.tensão
noticia.assalto.morreu.jovem.velho.abandonado.prisão.
cadeia.traficante.verdade.mentira.final.política.televisão.
suor.sapato.confuso.cansado.doente.lixo.poluição.

Quem saberá a cura do meu coração, se não eu

- Inspirado em Fabrício Carpinejar

Licença poética: “Sexo com amor, política com amor, ética com amor, amizade com amor é bem melhor. E natural. Ainda que demore, durará mais do que uma mentira.


Sempre fui passional, romântica, rasgada.
Sempre me joguei nos amores que tive, sempre me servi de bandeja, às vezes inteira, outras aos pedaços pra facilitar a vida de quem me devorava.
Sempre fui dramática, intensa. Sempre que agarrei aos amores como se fossem a minha única salvação nesse mundo sem paixão. Mas sempre voltei sozinha pra casa.
Sempre dormi agarrada aos travesseiros da infância, sempre usei calcinhas de algodão.
Sempre tive paixão. Pelos livros, pelas palavras escritas, pelas letras das músicas, pelos gatos, pelos homens do mar, pelo mar.
Sempre fui apaixonada pelas minhas idéias tortas, pelo meu trabalho que tão pouco me engrandecia como gente, pelos amigos que insistia em colecionar.
Mas nunca permiti que entrassem na minha vida os homens que eu amei. Julgava ser uma infeliz e incompreendida mulher quando na verdade eu estava apenas ensaiando um grande amor.
Faltava coragem para abrir as portas do meu quarto tão pequeno e conjugar o verbo na primeira pessoa do plural. Sempre fui só “eu”, não sabia ser “nos”. Cabia a mim amar sozinha, ser sozinha, sentir sozinha.
Assim amei meninos, pais-de-famíla, poetas. Assim julguei sentimentos e sensações.
Os pés sujos, as meias verdades que são pior que as mentiras, a distância, a falta de consideração e respeito, o medo e a covardia. Reunia todos esses sentimentos e mais uma vez me julgava a infeliz mulher que era tanto e ganhava tão pouco.
Tantos amores perdidos que eu considerava nunca mais reencontrar. Culpava os tolos que tentaram entrar, coitados, só eu sabia que a única que tinha a chave do portão era eu mesma. E eu não iria abrir de jeito nenhum.
Presava a minha liberdade, a minha sanidade e a minha castidade. Não queria que ninguém me invadisse assim, de qualquer jeito. Sexo com amor nem pensar, isso era intimidade demais.
Até você chegar. Sem aviso prévio, torto, com número errado e encontro desmarcado. Mas você chegou com as mãos vazias, com o peito escancarado e os olhos brilhantes.
Chegou por trás já adivinhando meus pontos fracos, já beijando minhas costas, já se enrolando nos meus cabelos.
Chegou sem desculpas, sem intenções. Simplesmente veio e sorriu. E me ninou nos seus braços e me fez menina, eu que só pensava em ser mulher.
E você orbitou o meu mundo de um jeito que acabei cedendo e te puxando pra dentro de mim, implorando pra você não parar, pra você não sair nunca mais.
E você ficou. E você me amou.
E só depois que você tomou posse das minhas terras, com garra, com força, com cuidado, só agora eu entendi o que é realmente ser livre.
Só agora eu entendi que você só entrou porque eu permiti e eu permiti porque você mereceu e você mereceu porque eu te ensinei o caminho e eu te ensinei o caminho porque você insistiu e você insistiu porque viu que valia a pena e você viu que valia a pena porque eu implorei pra você tentar e você tentou...e eu entendi...
E hoje eu te amo, simplesmente. E a maior prova do meu amor é justamente a minha dedicação sem cobranças, a minha fidelidade sem esforço, a minha atenção sem intenção, o meu sorriso sem cócegas, o meu corpo entregue sem resistência, a minha vida no plural.

9/05/2007

Onde quer que vá, vá para ser estrela. As coisas se transformam, isso não é bom, nem mau

Pra me inspirar eu escuto músicas tristes.
Gosto de histórias tristes, de sentir os acordes doendo dentro do peito, invadindo os ouvidos com uma arrebentação sofrida de mar preso no calçadão.
Pra me inspirar eu encho os olhos de lágrimas, lembro do pai e da mãe e isso sempre me faz chorar.
Algumas vezes eu não percebo, mas sinto uma dor enorme de escrever, de escrever e cantar, de cantar baixo e pra dentro, pra não atrapalhar quem está perto. Mas o choro é sempre pra fora. Hoje eu aprendi a chorar sem fazer barulho, é quase um segredo, não fosse pelo nariz vermelho ninguém perceberia.
Pra me inspirar eu lembro o Uno preto e a canção de Oswaldo, e eu sempre choro nessa hora.
Às vezes eu preciso parar para secar o rosto, pra respirar pela boca e congelar a alma que é louca e morre de saudade. A minha alma tem uma ânsia louca de correr pelas ruas gritando.
Pra me inspirar eu lembro os desastres que já causei, os corações humilhados que tranquei debaixo de tantos cadeados. Aqueles corações que foram usados só pra consertar a minha estima covarde de se mostrar.
Lembro do meu pobre coração que já foi partido tantas vezes e que continua se jogando nos abismos claros. O coração que nunca está contente e que roga por mais atenção, por mais atenção, por mais atenção.
Pra me inspirar e chorar eu procuro os recados que você deixa pra trás, eu busco uma carta não enviada, um texto mal escrito implorando ser terminado. Ouço Los Hermanos no último volume para poder me apaixonar mais um pouco.
Lembro do poeta, do menino, dos pés sujos trilhando minha casa...lembro que não fui feliz ao seu lado.
Às vezes dói a cabeça, o corpo fica pesado e a boca esquece de falar. O olhar fica perdido num ponto que não existe e a falta de vontade invade a sala sem janelas.
Tem dias que eu só penso em correr, pra longe, bem longe onde nada dê errado, onde a mania de demonstrar o que sinto não seja motivo de desculpas mais tarde.
Os dias se arrastam.
Pra me inspirar eu corro pra esquina, ajeito o decote e procuro um olhar de desejo.
Pra me inspirar eu lembro as primeiras palavras das crianças que amo, e nessas horas o riso sai frouxo, como pluma no vento da praia.
Eu penso forte. Ajo com destreza e ousadia, acredito que o melhor sempre vem, mas ele demora tanto.
Só que a alegria ganha força nessa hora e me inspiro sempre mais a ser feliz...demore o tempo que quiser, mas venha me encontrar felicidade. Vem que eu to inspirada!