Dizem que meninas sozinhas fazem coleção.
Não sou mais menina e, no entanto, coleciono muito.
Tudo que encontro pelo caminho eu guardo comigo.
E de cada passo trago um pouco de quem já passou.
Trago da vida muita história pra contar.
Tanto desejo, tanto desencontro, tanto sorriso que não caberia num livro se eu fosse soletrar.
Trago de casa amigos-irmãos que sabem da pressa e apertam o passo para poder acompanhar.
Trago do caminho trilhado amigos de porta-retrato com quem trato sempre de bate-papo. Alguns encontro todo dia, alguns sinto falta de olhar.
Trago no coração alguns amores partidos e outros que logo partirão.
Trago da morte um fim tão forte que só traz a certeza que é importante construir uma fortaleza pra antes de tomar qualquer decisão.
Trago da tua boca a semente travada e lacrada, a certeza latente da minha devoção.
Trago do corpo a vontade, inegável o fato de se ter um bom trato.
Trago do mundo o castigo de não conseguir abrigo e tentar sempre um precipício a cada buraco no chão.